Novos Povoadores®

Apoiamos a instalação de negócios em territórios rurais

Regressar ao Campo

No início dos anos sessenta, Portugal era ainda um país rural. As modificações entretanto ocorridas no pós guerra, no período que corresponde à segunda fase da revolução industrial - a era domarketing- , marcada por uma rápida generalização da eletricidade e do automóvel, pela revolução verde e pelo aparecimento de novos produtos e utensílios, alteraram profundamente o modo de vida das pessoas. As oportunidades de emprego passaram a estar nas cidades; o campo deixou de ser atrativo; começou o êxodo, e as aldeias rurais do interior de Portugal começaram a esvaziar-se.

A recente crise veio revelar o desencanto das cidades e toldar o horizonte com nuvens carregadas. A austeridade, o desemprego, as difíceis condições de vida transformaram os subúrbios em guetos sem perspetivas. Muitas pessoas, conscientes do beco sem saída para onde nos está a conduzir a globalização e temendo um colapso económico e financeiro- e até ambiental-, olham com nostalgia para o campo, e sentem um forte apelo para regressar ao modo de vida simples dos nossos pais e avós. A proximidade da terra e a possibilidade de angariar dela o sustento de cada dia , constitui a principal razão deste anseio. A vida agitada das grandes cidades, a dependência dos transportes e das redes de abastecimento de água, de alimentos e de energia dão às pessoas uma sensação de insegurança que se amplia sempre que se pressente o agravar da crise.

Na passada semana estive em Alfandega da Fé, no distrito de Bragança, para assistir à assinatura de um protocolo entre osNovos Povoadores, uma organização portuguesa, e a Fundação espanhola Abraza la Tierra. São duas organizações similares, empenhadas em fomentar e apoiar a fixação de pessoas interessadas em migrar para meios rurais. A Presidente da Câmara local, Dra. Berta Nunes, que apadrinhou o ato, falou de algumas experiências bem sucedidas de migração para o concelho e destacou a capacidade de inovação de alguns desses migrantes. Referiu-se à tendência para o crescimento das cidades, que desde há muito se verifica e se espera venha a continuar no futuro, afirmando que ela tem de ser contrariada pois, segundo disse,"tendência não tem de ser assumida como destino".
A desertificação do interior tem essencialmente causas económicas e só a economia pode inverter esta tendência. Foi a idade de ouro que esvaziou as aldeias e acelerou o forte desenvolvimento dos meios urbanos. As transformações na agricultura, o acesso à educação, o desenvolvimento dos serviços, o surgimento do estado social e os serviços que lhe estão associados, tornaram obsoleta a velha forma de vida rural baseada na agricultura tradicional feita à custa do trabalho animal e do esforço humano. Com a sociedade industrial acabaram os ofícios artesanais: alfaiates, oleiros, moleiros, ferreiros, padeiros, sapateiros, latoeiros, costureiras, tecelões, fiadeiras, etc... Os políticos não souberam ou não puderam encontrar alternativas a esta sangria. O abandono da terra aconteceu de forma pacífica e voluntária, e só quem não conheceu as agruras do mundo rural poderá pensar que ele era um paraíso.

A agricultura, apesar dos incentivos à florestação e à pecuária, foi definhando. Uma solução para a preservar teria exigido uma reconversão da propriedade, o que não aconteceu. Ora, uma política de subsídios é insustentável a prazo. Atualmente a floresta do interior norte, sem dimensão, e a pecuária, sem tradição e longe dos mercados, não têm futuro. O turismo, muito estimulado pelos programas de apoio europeus, parecia ser a única alternativa como atividade económica para promover o emprego. Mas o turismo é a indústria da prosperidade, e a prosperidade não é eterna.

Mesmo sem atividades locais sustentáveis e sem gente, o campo beneficiou do progresso global e foi-se urbanizando. O dinheiro da Europa construiu estradas;os fluxos financeiros dos emigrados permitiram edificar novas habitações e restaurar as antigas; o conforto da eletricidade e do automóvel chegaram. A nova distribuição passou a trazer de longe os produtos que a terra deixou de produzir e os artesãos deixaram de confecionar.

Numa economia global a teia de dependências é muito grande. A cidade depende do campo, mas o campo também depende da cidade. Uma situação de colapso económico seria trágica para o campo. Os meios rurais de hoje já não conseguem viver sem eletricidade, sem saneamento, sem água canalizada, sem automóvel. E já não dispensam o Lidl ou o Intermarché num raio de dez quilómetros. As mentalidades dos meios rurais já são urbanas. Os jovens dos meios rurais são em tudo semelhantes aos das cidades: vêem os mesmos programas de televisão, frequentam as mesmas redes sociais, vestem roupas das mesmas marcas. E, o mais preocupante de tudo, a sua máxima ambição é ir viver para as grandes cidades.

Tendência não é destino, mas mexe muito com ele. Os rios correm para o mar, e não é fácil inverter o seu curso. O que está a passar-se em Alfandega da Fé e o trabalho de organizações como os Novos Povoadores ou o Abraza la Tierra é admirável. Só por si, ele não vai alterar a orientação da mão invisível que está por detrás da globalização. Mas revela consciência da tragédia que será o destino dos subúrbios das grandes cidades se um dia tiverem de ficar entregues a si próprios. E permite alimentar o sonho de que será possível voltar a abraçar a terra!

in Transição, Luís Queirós e fotografia de Method Homes Prefab

Primeiro Jantar dos Novos Povoadores no Baixo Sabor

Por iniciativa do mais recente novo povoador na região do Baixo Sabor, realizou-se ontem um jantar em sua casa com os restantes migrantes daquela área para comemorar a existência desta iniciativa.

Para chegarmos a este estágio, há rostos que foram decisivos e que importa relevar.
À Fundação EDP, nas pessoas de Isabel Ferreira Marques e André Habler Rente que dedicaram centenas de horas do seu trabalho para viabilizar o arranque da iniciativa, numa organização coordenada por Sérgio Figueiredo que confiou no êxito do projecto.
À Câmara Municipal de Alfândega da Fé, na pessoa da autarca Berta Nunes, que aceitou o desafio e o risco de implementar o primeiro piloto, numa fase em que pouco saberíamos como poderia decorrer, e à Associação Leque na pessoa da sua líder Celmira Macedo pelo apoio nos momentos mais complexos.
Às primeiras famílias, que aceitaram a nossa colaboração para o desenho do seu projecto migratório, e a muitas outras que partilharam connosco os seus erros e experiências e que revelaram-se fundamentais para aperfeiçoarmos o programa.
À comunicação social que tem divulgado o nosso trabalho e sabido compreender que os processos de inovação social são implementados por tentativa e erro, e que existem contratempos que fazem parte do processo.

Por fim, e não menos importante, ao Instituto de Empreendedorismo Social, que tem apoiado a capacitação dos autores do programa, estabelecido redes com outras iniciativas e disponibilizado ferramentas que nos permitem avaliar em permanência o impacto social e económico da nossa intervenção.

Em breve anunciaremos a data dos próximos Encontros da Primavera em Lisboa e no Porto, oportunidade para esclarecermos as dúvidas que possam existir sobre o programa para aqueles que pretendem instalar empresas nos meios rurais em Portugal.

A todos, o nosso MUITO OBRIGADO!

Frederico, Alexandre e Ana.

Casas Transportáveis: Uma opção viável?

Viver numa casa transportável é uma ideia sedutora, num período de estagnação imobiliária.
A mudança de emprego, o reagrupamento familiar ou a simples necessidade de mudar de vizinhos, transforma estas casas numa opção a considerar.

Existem vários construtores portugueses de casas transportáveis: Modular System; Casas em Movimento; Casa Automática; Jular; Uchi

Mas - há sempre um "mas"! - habituados a uma casa de construção tradicional, é natural e legitimo que se coloquem algumas dúvidas adicionais.

Os fabricantes destas casas não dispoêm de exemplares para test-live e a maioria dos lodges disponíveis para o arrendamento diário não têm dimensões ou isolamento térmico com as características das ofertas disponíveis para habitação permanente.

Atento a esta fragilidade, José Caramelo, ex colaborador de uma empresa tecnológica e promotor da Casa Automática, decidiu colocar as mãos à obra e construir uma casa transportável para arrendar a potenciais interessados.
Em São Teotónio, concelho de Odemira, ergueu a primeira casa.
O exterior não denuncia o conforto e a eficiência do seu interior.
Em 45 m2, o T1 tem um quarto com boa arrumação, uma casa de banho de dimensões normais e uma pequena kitchinet. A sala de estar tem 22 m2.
A proximidade a Zambujeira do Mar e a simpatia da família Caramelo são o complemento para o êxito desta experiência de uma vida mais nómada.

Esta família migrou de Carcavelos para Odemira em Janeiro de 2014.

Informações e reservas pelo nr de telefone 961 624 226 ou josecaramelo@gmail.com

Mais informação em CMTV

Ano novo, Vida Nova!

A atractividade do mundo rural vive os melhores dias.

O período de maior instabilidade económica que assola o país provocou o despertar de interesse com as oportunidades nos territórios de baixa densidade.

O Programa Novos Povoadores surge para potenciar essas oportunidades e apoiar a migração de famílias e negócios para o interior. Este processo, necessariamente lento, implica mudanças substanciais nos hábitos familiares e coloca novos desafios na esfera profissional. A metodologia desenvolvida visa assegurar um planeamento sustentável da migração nas dimensões social, familiar e profissional.

O sucesso do projecto migratório depende da motivação e do planeamento dos candidatos.

Se é verdade que a economia de base digital veio transformar a ruralidade, as oportunidades que daí nascem carecem todavia de uma matriz para a sua descodificação. Neste capítulo, o Programa identifica alguns aspectos chave que ajudam a definir o projecto migratório: não adianta duplicar investimentos existentes; o mercado local é residual e resistente à entrada de novos actores.

Existe uma multiplicidade de estruturas subaproveitadas que urgem aproveitar, em nome da sustentabilidade das regiões.

O desafio que lançamos aos nossos candidatos consiste em subir na cadeia de valor dos recursos existentes, numa lógica de complementaridade. Em Alfândega da Fé, por exemplo, a cereja é paga a menos 1€/kg e os bombons artesanais de cereja são vendidos a 30€/kg. Uma valorização de 3700% sobre um produto endógeno, a que acresce o licor, o chocolate e a mão-de-obra local. Para isto, é necessário transformar uma cozinha municipal em “cozinha partilhada”. Cada munícipe que a pretende usar paga uma taxa, e pode comercializar os seus produtos certificados.

Todos beneficiam do licenciamento da cozinha.

Para outros sectores profissionais, como os serviços remotos às empresas, as bibliotecas municipais dispõem de diversas áreas que podem ser exploradas para apoio aos novos empreendedores.

Principais sectores de actividade em territórios de baixa densidade: Transformação Alimentar; Agricultura; Apicultura; Upcycling; Serviços Remotos às Empresas; Residências de Artistas; Glamping

Informação complementar e exemplos em http://novospovoadores.pt/oportunidades/

Prevenir a sustentabilidade de todos os intervenientes é a missão subjacente à implementação do Programa Novos Povoadores. O cenário de contenção em que vivemos obriga a maior prudência na hora de investir e cremos que o meio rural pode ganhar outro estatuto no contexto de uma economia responsável.

Importa aplicar princípios de sustentabilidade e eficácia aos recursos públicos, para ampliar o nr de beneficiários com esta nova oportunidade de vida em meio rural.


in Revista Agri, Alexandre Ferraz, Coordenador na Área dos Territórios no Programa Novos Povoadores

Apoios para mudar para o campo?

O anseio de muitas familias em migrar para o interior esbarra frequentemente na indefinição do projecto empresarial que permitirá a obtenção de rendimento sobre o seu trabalho.

Para solucionar este problema, agrupámos os negócios das 45 famílias que migraram para territórios rurais em 11 categorias distintas, com o intuito de inspirar ideias que possam ser complementares aos negócios existentes: Upcycling; Consultadoria;Transformação Alimentar; Apicultura (Mel); Comércio; Serviços à Comunidade; Residências de Artistas; Restauração; Exploração Agrícola; Glamping; Turismo Rural

Os candidatos a Novos Povoadores beneficiam de apoio nas seguintes áreas:

a) Apoio na definição do projecto empresarial a desenvolver
b) Identificação de projectos congéneres e visita aos mesmos
c) Identificação de parceiros e conselheiros para o negócio definido
d) Formação nas áreas complementares às competências actuais dos candidatos, mas necessárias à implementação do novo negócio
e) Correções ao modelo de negócio, face à experiência decorrida durante o protótipo
f) Negociação de contratos de arrendamento no território de destino (comercial e habitacional)

Está disponível em Oportunidades informação complementar sobre os projectos já implementados em território rural e, se sentir motivação para iniciar este processo, tem a possibilidade de fazer uma inscrição gratuita no Programa.

A Europa rural na viragem do terceiro milénio: "diversidade"


O desenvolvimento rural prolonga um diálogo
ancestral entre os homens - ou as mulheres -
e a natureza. Reflecte a maneira como os
constrangimentos naturais foram ultrapassados
ou as riquezas exploradas. Nos anos 90, as
zonas rurais reservaram aos europeus e aos seus
dirigentes políticos uma "boa surpresa",
afirmando-se por vezes como espaços dinâmicos
e inovadores, atraentes para citadinos e empresas.
Viagem através da Europa rural de hoje[1].


Ao percorrer o meio rural europeu, depressa se retira a impressão de uma Europa vista através de um caleidoscópio. A diversidade dos relevos, climas, paisagens e densidades populacionais corresponde à variedade das actividades económicas, produções agrícolas, problemas e oportunidades.

Uma análise mais detalhada sugere-nos também a existência de correspondências, à falta de semelhanças, entre zonas rurais muito afastadas geográfica e culturalmente. Tenta-se então fazer comparações e descobrem-se, inesperadamente, certos traços comuns entre a Irlanda do Norte e algumas regiões francesas ou entre o Land alemão da Renânia-Palatinado, por um lado, e a Navarra espanhola, por outro.

O desenvolvimento rural não deve, com efeito, nada ao acaso: prolonga um diálogo ancestral entre os homens - ou as mulheres - e a natureza. Reflecte a maneira como os constrangimentos naturais foram ultrapassados ou como as riquezas foram exploradas. Testemunha por vezes a existência de um impulso político corrector ou emancipador, que permitiu aos residentes libertarem-se dos dados existentes à partida.

Esta longa história conduziu hoje às múltiplas formas adoptadas pela política de desenvolvimento rural, instrumento ora de modernização, ora de reparação ou ainda de protecção. Assim, a análise da Europa rural de hoje constitui um testemunho contemporâneo das nossas preocupações e das nossas ambições, na passagem do século. Se tivesse sido iniciado há vinte anos atrás, quando a indústria - mesmo qualificada de "ligeira e de ponta" - e as infra-estruturas pesadas ainda eram consideradas como uma passagem obrigatória para o desenvolvimento territorial, um exercício deste tipo teria dado resultados bem diferentes. Nos anos 90, as zonas rurais reservaram aos europeus e aos seus dirigentes políticos uma "boa surpresa", afirmando-se por vezes como espaços dinâmicos e inovadores, atraentes para os citadinos e as empresas. A inversão do fluxo demográfico recentemente registada em algumas regiões rurais altera radicalmente os dados da questão. De repente, o olhar que se lança sobre os campos já não é condescendente, mas sim interrogativo. O que era visto ainda recentemente como um atraso é agora considerado como uma oportunidade. Em suma, a análise dos trunfos e dos constrangimentos das zonas rurais foi completamente transformada e continua a mudar. Estas evoluções ligadas às políticas de desenvolvimento rural, assim como os progressos realizados desde o lançamento do programa de Iniciativa Comunitária LEADER em 1991, incentivam-nos a olhar para uma outra faceta da Europa rural e a avaliá-la, desta vez, do ponto de vista da inovação.

O peso da geografia e da economia

A Europa é, antes de mais, um continente densamente povoado situado numa zona temperada. Inclui uma parte setentrional, formada por vastas planícies e velhos maciços sujeitos a erosão (caledónios e hercinianos) por vezes rejuvenescidos (Escandinávia), uma parte meridional ocupada por cadeias da era terciária (nomeadamente, Alpes, Pirinéus, Pindo grego e Cárpatos) que encerram algumas planícies costeiras de pequena dimensão.

Mas, com a excepção da Holanda e do Luxemburgo - associada no essencial à dimensão - cada país se encontra, na melhor das hipóteses, face a uma oposição binária territorial ou, na pior, a uma variação extrema das situações regionais. Assim sucede na Escandinávia, com a dicotomia entre um norte despovoado sob um clima ártico e um sul mais hospitaleiro, dotado de solos bastante ricos na Suécia e na Finlândia. Na Alemanha, sem contar com as sequelas do regime comunista, as vastas explorações da planície no nordeste distinguem-se fortemente dos modos de cultura e das estruturas de propriedade do sudoeste, adaptadas a um relevo mais acidentado. Em países montanhosos, como a Espanha ou a Itália, o mosaico parece reproduzir-se ao infinito, até aos confins dos vales.

Entre as duas dificuldades naturais mais gravosas, a altitude representa um constrangimento omnipresente na Áustria, Grécia, Espanha e Itália. O clima revela-se também como um obstáculo determinante, quer se trate da seca no sul de Espanha, Itália e Grécia, das fracas precipitações em algumas regiões centrais da Alemanha, como Brandeburgo, ou do frio ligado à latitude, na Finlândia e Suécia.

As difíceis condições de vida e de exploração são por vezes agravadas pelo isolamento devido a dificuldades de comunicação, nas ilhas da Dinamarca ou Grécia, à distância, na Finlândia e Suécia, ou ao relevo, em Espanha, Escócia ou Grécia. Obviamente que Martinica, Guadalupe, Reunião, Guiana, Madeira, Açores e Canárias, devido ao seu estatuto de regiões ultra-periféricas, figuram aqui como casos extremos.

O solo e o subsolo imprimem também as suas marcas no desenvolvimento económico. Uma terra pobre e uma agricultura pouco produtiva induzem muitas vezes a práticas de pecuária extensivas e/ou à predominância da silvicultura sobre a agricultura. É a sorte de países inteiros, como Irlanda, Grécia, Finlândia ou de grandes regiões do Reino Unido, Espanha, Portugal e Itália.

A riqueza do subsolo em minério ou em carvão definiu os berços da primeira revolução industrial e, desta forma, reintroduziu a antiga competição entre a agricultura e a indústria, provocando um êxodo rural precoce e importantes pressões fundiárias. A agricultura teve que adaptar-se e deve agora contar com a poluição industrial. As consequências são ainda sensíveis no centro de Inglaterra, País de Gales mineiro, Saxónia, Baixa-Saxónia e Saarland, no Nord-Pas-de-Calais, e em certas partes da Valónia.

Os obstáculos que as regiões rurais devem hoje ultrapassar não são apenas naturais, longe disso. Resultam da intervenção humana e do modo de desenvolvimento escolhido desde a Segunda Guerra Mundial. É o caso da poluição por pesticidas e outros produtos químicos, em regiões de agricultura intensiva, como Bretanha, Flandres e Holanda, ou ainda de práticas excessivas de irrigação na Andaluzia, Múrcia, Alentejo, Algarve e Aquitânia.

Inversamente, muitas regiões são dotadas de uma qualidade paisagística ou natural notável, que podem valorizar numa estratégia de desenvolvimento turístico e de oferta recreativa: por exemplo, Ródano-Alpes e Midi-Pyrénées em França, Baviera na Alemanha. Abruzos e Friule-Veneto-Juliana em Itália, Tirol na Áustria, Escócia, Irlanda, algumas partes da Grécia, as regiões árcticas da Finlândia e Suécia, etc. Algumas delas podem ainda apoiar-se numa identidade cultural e em tradições ainda muito vivas.

A política de desenvolvimento rural, reflexo de um contexto histórico e social

A política de desenvolvimento rural aparece claramente como uma tentativa de responder aos problemas do momento e do local.

A este respeito, uma diferença marcante reside na situação histórica em que se encontram os territórios rurais. Com efeito, sabe-se agora que a imagem do mundo rural - em declínio lento desde a Segunda Guerra Mundial - deve ser fortemente ponderada. Mas ainda se esquece frequentemente que esta visão é completamente falsa para metade dos Estados-Membros, onde os campos enfrentaram transformações profundas e brutais desde há 20 anos ou menos.

Assim, pode-se geralmente distinguir um primeiro grupo de países onde as mudanças importantes datam do início do século ou dos anos 50. A situação económica, demográfica e social das zonas rurais está estabilizada, seja em declínio lento (França, Dinamarca, Itália), seja em ligeira melhoria (Suécia e sul de Inglaterra). Em conjunto, a noção de inovação, a abordagem em parceria e o desenvolvimento do potencial endógeno local suscitam um entusiasmo moderado. As políticas de desenvolvimento rural, nacionais ou regionais, privilegiam a diversificação de todas as actividades económicas, e não só agrícolas. As políticas de formação profissional, conduzidas ao longo dos tempos, na Dinamarca, Alemanha ou Suécia, ou desde algumas décadas em França, já produziram resultados económicos espectaculares. A situação das populações não agrícolas é objecto de uma atenção prioritária: as suas condições de vida, os seus empregos e a valorização de pólos com vocação turística. Programas importantes para a criação de novas empresas rurais e a organização de serviços sociais de qualidade foram assim lançados em Hesse (Alemanha) e Dinamarca.

No segundo grupo de países, o mundo rural é ou foi recentemente confrontado com crises, êxodo para as cidades, aumento brutal do desemprego ou reestruturação acelerada das produções e das explorações. Assim, a população activa agrícola portuguesa diminuiu de 48% em 1950 para 10% em 1990. Nos cinco novos Länder alemães, o número de activos agrícolas passou de 850 000 para 155 000 entre 1989 e 1994. Na Finlândia, a população das zonas rurais perdeu 200 000 habitantes durante os anos 80 e, entre 1993 e 1996, o desemprego atingiu os 50% em algumas aldeias da Lapónia. Nestes países, como também na Irlanda, Espanha e Grécia, a melhoria das competências dos agricultores, o acompanhamento das reestruturações e a modernização das técnicas de produção constituem eixos fortes do desenvolvimento rural, aos quais se juntaram vários esforços para tornar certas regiões menos isoladas. A população em situação de instabilidade parece agora mais aberta à novidade e pronta a aceitar modelos de desenvolvimento menos tradicionais, o que explica o sucesso das medidas orientadas para a exploração do potencial endógeno local e para as parcerias.

Apesar do seu carácter atractivo e da sua simplicidade aparente, a classificação baseada na densidade populacional e na dinâmica económica que permite definir três tipos de zonas rurais - periurbanas, dinâmicas e produtivas, em declínio e isoladas - raramente coincide com as estratégias regionais em curso. Salvo para algumas regiões muito características, como as regiões árcticas ou as províncias belgas, esta grelha de leitura raramente permite identificar a totalidade dos problemas e das oportunidades. Por exemplo, uma taxa elevada de população vivendo em zona rural é sinónimo de dinamismo económico na Toscânia ou Úmbria, enquanto em Portugal ou na Grécia implica um grave problema de reconversão a resolver. Contudo, este número é um bom indicador da importância atribuída ao desenvolvimento rural pelos actores políticos, económicos e sociais. Enquanto na União varia entre 15 e 50%, ultrapassa 40% na Irlanda, Luxemburgo, Itália, Finlândia e Áustria.

Se nos interessarmos pelas políticas rurais stricto sensu, constataremos grandes diferenças de um país para outro, e de uma região para outra, nos países muito descentralizados. Em certos Estados-Membros, trata-se de uma preocupação e de uma competência antiga. Em França, os primeiros "Planos de Ordenamento Rural" foram adoptados nos anos 70; tendo sido completados por inúmeras medidas visando a agricultura ou o ordenamento do território, o que conduziu nomeadamente a procedimentos contraturais de protecção-valorização, tais como os Parques Naturais Regionais ou os "Contratos de Território".

Na Holanda e Suécia, a atenção dada às zonas rurais é igualmente muito antiga e as primeiras políticas remontam a esta mesma época. Na Áustria, o "Programa de desenvolvimento das zonas de montanha" data de 1979 e inaugura a prática do desenvolvimento integrado. Em Itália, a reforma dos Fundos Estruturais no fim dos anos 80, que instaurou os "Programas Integrados Mediterrânicos", coincidiu com a definição nacional de uma política global e integrada. Pelo contrário, em Espanha, Portugal ou Irlanda, foi apenas o Programa LEADER I que desempenhou o papel de motor.

Desde há cinco anos que ocorrem mudanças organizacionais em quase todos os Estados-Membros da União Europeia. Correspondem à vontade de concretizar acções mais integradas, muitas vezes sob a orientação de um organismo coordenador, e mais dependentes de parcerias, levando o sector privado ou as populações locais a participarem. Dispositivos interessantes funcionam, nomeadamente, em Castela-La Mancha, Groninguen, Irlanda do Norte e República da Irlanda.

Contudo, embora se note uma tendência crescente para a aproximação entre os beneficiários e os organismos responsáveis, com a finalidade de melhor adaptar as medidas às necessidades locais, a gestão das políticas rurais continua fiel à organização geral dos Estados.

Em países amplamente descentralizados, o nível regional dispõe muitas vezes de uma grande autonomia para a orientação estratégica e a concretização. Na Alemanha, cada Land decide, o que explica as importantes diferenças de uma região para outra, como por exemplo entre Hesse e a Baixa-Saxónia, onde nem os temas do desenvolvimento rural, nem os modos operatórios se assemelham. A liberdade concedida pelo governo central às regiões belgas e às comunidades autónomas espanholas é menor, pois devem conformar-se com as orientações gerais definidas a nível nacional.

Nos países mais centralizados, os ministérios nacionais continuam a ser os principais coordenadores, como em França, Grécia ou Portugal. Contudo, as situações intermédias são as mais frequentes. Na Áustria ou Finlândia, o Estado central age em concertação com as autoridades regionais e locais e as responsabilidades são assim partilhadas. Com a generalização dos sistemas de dotações globais, sob o modelo "bloktilskud" iniciado na Dinamarca, a autonomia financeira encontra-se agora melhor garantida.

As próprias ambições políticas reflectem as inclinações culturais nacionais ou regionais, mas também as orientações governamentais. Assim, a gama inteira dos tipos de políticas encontra-se representada: política de compensação de carências, nas ilhas ultra-periféricas e regiões fronteiriças da União, nomeadamente as que se situam ao longo da Cortina de Ferro; política de reforma das práticas agrícolas intensivas, na Bélgica, Drenthe, Bretanha e Alta-Áustria; política de protecção do ambiente ou das zonas naturais, na Cantábria, Calábria, Flevoland, Salzburg e Vorarlberg; política de ordenamento ou de re-ordenamento territorial, em Portugal, Grécia e nos novos Länder alemães; política de valorização das produções agrícolas e artesanais, na Frísia, Comunidade de Madrid, Canárias, Abruzos e Burgenland.

Muito esquematicamente, como para as outras políticas de desenvolvimento económico, apercebemo-nos da oposição entre duas visões de futuro para estas zonas. A primeira pressupõe a capacidade autónoma de renascimento por parte do mundo rural, graças a instrumentos contratuais, como em França e Suécia. Coincide geralmente com uma estratégia mais introvertida, centrada na qualidade de vida e na formação da população, mobilização dos actores locais, criação de empregos para os desempregados. É frequentemente praticada na Dinamarca, Bélgica, em regiões do norte de Itália e no Luxemburgo. A segunda visão é mais extrovertida: prefere apostar na importação da modernidade, sem negligenciar contudo a importância de mobilizar a população e os actores rurais. Toma a forma de programas de desenvolvimento económico para as actividades terciárias (turismo, património cultural, tecnologias da informação) ou primárias (agricultura, agro-indústria, pesca), a melhoria da qualidade e a comercialização das produções agrícolas e artesanais. Caracteriza as regiões predominantemente agrícolas espanholas (Múrcia, Andaluzia, Galiza, Castela - La Mancha, Astúrias), o Mezzogiorno italiano ou ainda as regiões árcticas da Finlândia.

Estas diferenças reflectem, naturalmente, o contexto cultural e social regional. Com efeito, se quase todas as zonas rurais sofrem do envelhecimento da sua população, já os problemas se colocam de forma diferente consoante a composição exacta da população: por vezes, os agricultores são pluriactivos, como na Áustria e no Luxemburgo; ou são profissionais muito bem formados, como na Dinamarca, Bélgica, Picardia e Alsácia; a menos que esta categoria da população seja particularmente desfavorecida, como no Alentejo (Portugal), Galiza (Espanha), Púglia (Itália) ou Épiro (Grécia).

A inovação no mundo rural
Prosseguindo o objectivo da inovação, o programa de Iniciativa Comunitária LEADER abriu janelas para e em direcção ao mundo rural. Solicitou a sua capacidade de modernização e de invenção e, em troca, deu grande visibilidade às experiências existentes. Permitiu ao mundo exterior a descoberta de espaços em plena transformação. Na prática, a inovação rural resulta, tanto de técnicas de gestão e de animação dos territórios, como do conteúdo dos programas. Lança-nos numa terceira dimensão de ordem cultural e política, a da integração europeia.

No plano metodológico, o LEADER contribuiu incontestavelmente para a propagação de um tipo particular de estratégia de animação e de desenvolvimento rural, baseada em sete grandes componentes: valorização do potencial endógeno local, enraizamento territorial estratégico, abordagem ascendente, gestão descentralizada e global dos financiamentos, abordagem integrada ou multisectorial, parceria horizontal e privada-pública, assim como organização em rede. Na esteira do LEADER I, a Irlanda fez aliás do desenvolvimento rural um instrumento de desenvolvimento da cidadania e da modernização política. Contudo, em países que já praticavam tais métodos - a Áustria é o melhor exemplo -, a inovação trazida pelo LEADER foi mais limitada. Actualmente, apenas os países, ou mesmo as regiões, de tradição social conflituosa e onde o Estado é geralmente considerado como o último árbitro, não conseguiram diversificar as suas parcerias e torná-las eficazes.

Em países já dotados de uma política de desenvolvimento rural, o LEADER serviu frequentemente para suprir lacunas ou para aperfeiçoar o existente. Assim, nos países nórdicos, os grupos de acção local (GAL) adoptaram temáticas muito focalizadas nos seus programas de acção - a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, na Suécia, ou os jovens e as mulheres, na Finlândia. Para os outros Estados-Membros, os GAL desenvolveram em geral estratégias horizontais de desenvolvimento económico e social, apoiando-se na população local.

Tendo em conta os trunfos e as dificuldades próprias a cada território, pode dizer-se que os GAL europeus adoptaram uma gama quase completa de estratégias. Entre elas, alguns temas ocorrem mais frequentemente:
a melhoria das condições de vida através do desenvolvimento dos serviços de proximidade, em França, Suécia, Finlândia e Áustria; o reforço e a reorganização dos serviços públicos, em Itália, Grã-Bretanha (porque a Irlanda do Norte continuou bem dotada) e Grécia; a modernização e renovação das aldeias, na Alemanha, Dinamarca e Itália;
a protecção do ambiente, na Suécia, Alemanha, Dinamarca, Espanha, Luxemburgo, Holanda e Itália;
a diversificação agrícola e o desenvolvimento das culturas biológicas, em Itália, Finlândia, Irlanda e Áustria;
o agro-turismo, quer para clientes de proximidade - na Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, França e Holanda - quer para visitantes estrangeiros - na Finlândia, França, Escócia e Irlanda;
o aumento dos rendimentos disponíveis para os rurais, quer pela diversificação e valorização agrícolas, na Irlanda, Grécia, Espanha e Portugal, quer pelo desenvolvimento de novas actividades económicas industriais ou terciárias, na Grécia, França, Itália, Irlanda e Espanha.

A realização do LEADER testemunha de forma assaz fiel a atitude nacional das autoridades públicas e dos cidadãos relativamente à integração europeia.

No seu conjunto, os países de maior dimensão - França, Reino Unido e Alemanha - procuraram pouco a aplicação dos preceitos do LEADER, não modificando a sua organização interna para se adaptarem. Do mesmo modo, na Holanda, Bélgica, Dinamarca, Áustria e Suécia - quer por desconfiança tradicional quanto a uma possível ingerência comunitária, quer considerando que já praticavam estes métodos - os poderes públicos parecem ter voluntariamente reduzido as possibilidades de influência do LEADER sobre o seu mundo rural. Pelo contrário, outros países muito motivados, como Espanha, Portugal e Irlanda, retiraram benefícios importantes do LEADER, que inspirou em dois deles programas nacionais de desenvolvimento rural e até de desenvolvimento regional.

De qualquer modo, a situação não se encontra congelada e a experiência demonstra que o envolvimento das regiões na dinâmica LEADER se desenvolveu em "crescendo" entre 1994 e 1999. Tal como o LEADER I e II, o LEADER+ (2000-2006) representa, não só um instrumento para o desenvolvimento rural, como também o instrumento privilegiado de uma integração europeia fundada na vontade dos actores locais.


Depois de ter feito parte da Célula de Prospectiva da Comissão Europeia, Marjorie Jouen é agora responsável por estudos no Agrupamento de Estudos e Investigação "Nossa Europa", onde acompanha muito particularmente a Política Agrícola Comum, as políticas de coesão e o alargamento da União. 

[1] Este artigo serviu de introdução ao "Atlas LEADER du développement rural", Observatório Europeu LEADER, 2000. Versão em papel disponível em francês e em inglês.
Fonte: LEADER Magazine n. 25 - Inverno 2000/2001

Municípios do Baixo Alentejo querem atrair empresas e combater despovoamento



Atrair empresas para criar emprego e fixar pessoas e combater o despovoamento do Baixo Alentejo são algumas das orientações do plano de desenvolvimento da região para 2014/2020, que está a ser preparado pela comunidade intermunicipal.
O plano será "um exercício integrado de planeamento estratégico conducente à definição das grandes orientações de desenvolvimento" para a região entre 2014 e 2020, explica a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), num comunicado enviado à agência Lusa.
Segundo a CIMBAL, as orientações do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Baixo Alentejo 2014-2020 (PEDBA'2020) irão coincidir com a implementação do próximo período de programação dos Fundos Estruturais em Portugal.
No documento de trabalho que serve de suporte à preparação do plano, a CIMBAL propõe uma "visão de desenvolvimento" para a região numa "perspetiva de longo prazo" e estruturada em seis ideias principais.
A reversão do despovoamento e do envelhecimento do Baixo Alentejo, novas iniciativas empresariais com capacidade para gerar valor, emprego e fixar ativos, sobretudo jovens, na região, e uma "cultura de empreendedorismo" nas atividades educativa e formativa e na modernização das instituições públicas e privadas são três das ideias.
A "mitigação" das necessidades e carências e dos problemas sociais, a "oferta de níveis elevados de qualidade de vida como fator de diferenciação e atratividade" do Baixo Alentejo e a "aposta na valorização do capital humano" e na inclusão, na empregabilidade e nas potencialidades da região suscetíveis de proporcionar um desenvolvimento sustentável são as restantes ideias.
No documento, a CIMBAL propõe cinco objetivos estratégicos para "orientar" a "materialização da visão", como posicionar a região como "um território amigo do investimento" e "onde é fácil investir e existe uma envolvente de suporte à atividade económica".
Transformar o Baixo Alentejo num "território empreendedor e produtivo" e valorizá-lo como uma região residencial apelativa, de "excelência ambiental" e "em rede", promovendo a cooperação interinstitucional, são os outros objetivos.
Para concretizar a visão de desenvolvimento e atingir os objetivos, a CIMBAL propõe 16 intervenções, como a criação de um dispositivo regional de apoio fiscal e financeiro à atividade empresarial e de uma rede regional de infraestruturas de acolhimento e outra de serviços de apoio a empresas.
Um programa de promoção do empreendedorismo, iniciativas de valorização económica de recursos endógenos, combate à desertificação e modernização da administração municipal são outras das intervenções propostas.
No âmbito do processo de preparação do PEDBA'2020, a CIMBAL promoveu, na quarta-feira e hoje, um ciclo de "workshops" para discutir o documento de suporte à elaboração do plano com várias entidades da região.
A CIMBAL espera que o PEDBA'2020 possa ser "um verdadeiro pacto para o desenvolvimento do Baixo Alentejo", agregando a ação dos municípios e o conjunto de recursos, competências e capacidades de iniciativa disseminadas pelos vários parceiros públicos e privados "com relevância para a trajetória futura de desenvolvimento da região".

LUSA

Em Portugal, a organização Novos Povoadores apoia familias a planear e implementar a migração para o território rural.

Quem Morre?

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.


Sobre o(a) autor(a):Martha Medeiros nasceu em Porto Alegre em 1961. Formada em Publicidade. Escreveu livros de poesias e de crônicas, seu mais recente lançamento é o livro de ficção: Divã. Martha é cronista do jornal Zero Hora.

O tempo passa a correr!

Parece que foi na passada semana que tudo começou, mas passaram oito anos!

Um jantar entre o Frederico Lucas e Alexandre Ferraz, no Outono de 2005, fez nascer a ideia que ganhou uma marca: Novos Povoadores
Em 2006 ganhámos o contributo da Ana Linhares.

A ideia mantém-se fiel ao longo do tempo: os territórios rurais precisam de gente, que quanto a nós, só será sustentável com novas empresas.

E assim nasceu uma ferramenta que visa captar empresários para o território rural português.

Em 2009 tornámos pública a iniciativa. Em 2011 tivémos o primeiro território aderente.

Migraram entretanto 47 novas familias para o interior rural. Seis dessas famílias desistiram do projecto migratório.

Na região aderente, Baixo Sabor, migraram 5 famílias. Uma desistiu.

Os números são claros e tornam-se agora públicos:

Familias inscritas no Programa: 1417

Projectos empresarias recebidos: 537

Familias atendidas: 293

Famílias aprovadas (candidatas e transferidas): 107

Familias desaconselhadas a migrar: 59

Famílias transferidas: 47

Famílias que desistiram da migração, após transferência: 6

A maioria dos inscritos no programa não tem qualquer ideia sobre o negócio a implementar em território rural, principal eixo de apoio desta iniciativa. Para colmatar esta dificuldade, entendemos preparar um guia de apoio ao migrante. Prevemos disponibilizá-lo no nosso site em Setembro próximo.

Ao longo destes 8 anos, conhecemos um país incrível, habitado por gente empenhada, com iniciativa e com a qual fomos construindo parcerias duradouras. É também com essa rede de parceiros alargada que contamos apoiar a sua oportunidade para uma vida mais equilibrada.

Se está inscrito e não conhece o estado do seu processo, não hesite em contactar-nos: info@novospovoadores.pt e +351 271 82 80 82 (dias úteis entre as 9:00 e as 18:00).

Se não está inscrito, poderá fazê-lo desde já em http://novospovoadores.pt

Portugal é país onde PME menos apostam na mudança

Portugal é, entre 21 países incluídos num estudo SAP/Oxford Economics, aquele onde as pequenas e médias empresas (PME) menos apostam na mudança, referindo 80% não ter iniciativa de transformação do negócio.
O estudo "PME: Equipadas para Competir", realizado pela Oxford Economics, incluiu as PME portuguesas e de mais 20 países a nível mundial e teve como objectivo "compreender como é que as pequenas e médias empresas estão a competir num mercado cada vez mais global e como é que estão a transformar os seus negócios", disse à Lusa Jorge Reto, director comercial da SAP Portugal.

Uma das conclusões do estudo, realizado por inquérito 'online' em abril, é que "as PME portuguesas precisam iniciar rapidamente processos de transformação dos seus negócios", apontou Jorge Reto.

Isto porque, adiantou, "80% das PME nacionais referiram não ter qualquer iniciativa de transformação do negócio a começar, em curso ou concluída recentemente, enquanto dois terços do total das empresas inquiridas afirmam estar em processo de transformação dos seus negócios".

Face a outros países europeus, "Portugal é o país onde as PME estão a apostar menos na mudança dos modelos de negócio, tecnologia, ofertas de produto e estratégias de mercado".

De acordo com Jorge Reto, "apenas 4% das PME nacionais estão com iniciativas de transformação do negócio em curso". Esta percentagem contrasta com países como Espanha e Polónia, onde a taxa é de 22%, França (19%), Itália e Reino Unido (18%) e Alemanha (16%).

Quando a questão é sobre as intenções de desenvolvimento de iniciativas de transformação de negócio significativas, o fosso entre Portugal e os restantes países é maior.

"Em Portugal, apenas 5% das PME dizem estar a planear uma transformação de negócio significativa, enquanto nos outros países europeus esta intenção é claramente superior (54% na Alemanha, 51% em França e Reino Unido, 48% em Itália, 43% em Espanha e 38% na Polónia)", disse.

O inquérito incluiu 21 países a nível mundial, num total de 2.100 empresas divididas igualmente (100 empresas por cada país), onde estão a África do Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Espanha, EUA, França, Hungria, Índia, Indonésia, Itália, México, Polónia, Portugal, República Checa, Reino Unido e Rússia.

No caso de Portugal foram inquiridas 100 empresas, sendo que mais de um quarto (26%) é do sector de produtos de consumo, 24% de retalho, 20% dos serviços profissionais, 16% da indústria e 14% do sector grossista.
"Mais de dois terços (67%) dos inquiridos são executivos de topo, sendo 19% directores gerais e 39% directores de informática", adiantou o director comercial da tecnológica SAP Portugal.

"No âmbito do estudo, um factor bastante positivo para as PME portuguesas é que estas vêem na inovação e na tecnologia o caminho para o crescimento, o que poderá vir a dinamizar iniciativas de transformação dos negócios", disse Jorge Reto.
O responsável sublinhou que 45% das PME portuguesas "apontam como prioridades estratégicas para a transformação do negócio a criação de uma cultura de inovação e de se investir em novas tecnologias, uma vez que acreditam que a tecnologia pode ajudá-las a alcançar a longevidade e o crescimento sustentável, referido por 70% das PME portuguesas".

in Económico
See Older Posts...