Novos Povoadores®

Apoiamos a instalação de negócios em territórios rurais

“Para que as pessoas visitem um lugar precisam de ter o que ver, o que comer e o que comprar, mas agora é também imprescindível ter o que experienciar”

“Para que as pessoas visitem um lugar precisam de ter o que ver, o que comer e o que comprar, mas agora é também imprescindível ter o que experienciar”, é assim que Paulo Silva, um dos donos da TransSerrano, fala da experiência de viver o turismo.
Quem procura a TransSerrano, vai encontrar uma empresa dinâmica, a trabalhar em Góis, mas que dá a conhecer todo o país. É um projeto de turismo aventura, de paixão por uma região e do desejo de mudança de vida de Paulo Silva que, em 1999 quis sair de Lisboa para viver no meio rural. Com a mulher, escolheu Góis e a serra da Lousã, pela natureza, mas também por se manter relativamente próximo dos centros urbanos.
Quando se mudou, não tinha uma ideia completamente definida, mas sabia que queria criar algo ligado à animação turística e ao desporto aventura. Quando definiu o conceito, a autarquia de Góis foi a primeira a apoiar a sua ideia e, pouco tempo depois, uma candidatura a um investimento europeu deu o empurrão necessário para comprar as canoas para a primeira atividade.

Existem 3 áreas de negócio distintas, com um diferencial de inovação em cada uma:
1 – Na animação turística, associou o desporto aventura a atividades culturais e etnográficas. Incorporou os produtos e as tradições da região em programas de experiência e animação. Por exemplo, o “souvenir” dos passeios TransSerrano é sempre um produto regional: castanha pilada, pão, azeite.
2- A agência de viagens organiza sobretudo passeios com seniores.
3- O Parque de Campismo é um espaço de referência, onde a empresa faz questão de manter um atendimento personalizado. São 14 mil pessoas por ano a fazer atividades no concelho.
O trabalho é sempre constante e não há época baixa nem alta, porque no verão o desporto aventura é o mais requisitado, mas os passeios de turismo sénior funcionam o resto do ano.

Gois está na fronteira entre o mundo urbano e o mundo rural, no eixo Lisboa-Porto e, por isso, numa localização excelente e num diálogo constante entre mundos. Há muito potencial em toda a região. A prova é que a empresa é hoje muito maior do que há 20 anos. Paulo Silva, termina a conversa, em jeito de desafio: “um projeto de hotelaria e um parque temático são duas oportunidades imensas em Góis. Há condições para redes de parques que já funcionem e que conheçam bem o seu segmento. Isto é um convite às redes de parques temáticos para virem conhecer Gois. A TransSerrano está completamente disponível para se associar a boas ideias.”

Por Suzanne Rodrigues

O fim anunciado dos escritórios




Se o vídeo matou a estrela da rádio, a Web 2.0 poderá vir a matar os escritórios convencionais: de acordo com um estudo no qual participou a Microsoft, a recessão, os dispositivos móveis e a geração que está a crescer com as redes sociais irá revolucionar o mundo do trabalho - haverá cada vez mais pessoas a trabalharem a partir de casa ou remotamente, poupando às empresas os custos de manutenção de um lugar fixo de trabalho. Com o fim anunciado dos telefones de secretária, poderão as próprias secretárias desaparecer?


De acordo com a Computer Weekly, o estudo - produzido por académicos, think tanks do sector público britânico e o Institute of Directors (uma organização britânica que luta pelos interesses dos directores de empresas) - poderá vir a ter um impacto profundo na organização das empresas. Cada vez mais o objectivo será o de dar liberdade de movimentos aos directores das empresas e aos seus funcionários, especialmente daqueles que trabalham no sector das novas tecnologias.

As empresas usarão a tecnologia para se descartarem dos seus escritórios fixos e possibilitarem ao seu pessoal o acesso a escritórios em edifícios partilhados (com outras empresas), ou permitindo-lhes trabalhar de onde quiserem, prevê o relatório.

“As poupanças no curto prazo centrar-se-ão no espaço de escritório. Na melhor das hipóteses, apenas 55 por cento do espaço é ocupado em determinado momento, deixando 45 por cento do espaço por usar. Isso é o equivalente a 45 por cento do valor total que custa manter um escritório”, indicou Dave Coplin, que trabalha para a Microsoft Reino Unido.

Este estudo alerta ainda para os benefícios para a empresa resultantes do uso de redes sociais pelos seus trabalhadores, em vez de as tornarem inacessíveis. “Há aqui uma mensagem para as organizações que bloqueiam ferramentas como o Twitter. Não podem continuar a fazer isso, porque estão a restringir a actividade das pessoas. Confiem na segurança das vossas redes e afrouxem um pouco o vosso controlo”, disse Coplin.

O estudo prevê igualmente que se podem tornar comuns situações de trabalho em que há pessoas de várias empresas diferentes a trabalharem debaixo do mesmo tecto. Ao mesmo tempo que partilham o espaço, os trabalhadores podem igualmente partilhar ideias com pessoas de outros ramos de actividade, com benefícios para todos, prediz o estudo. “Isso já está a acontecer em cidades como Londres, Birmingham e Manchester. Há escritórios que não são detidos por nenhuma organização em particular. Há café, luzes e tomadas ligadas à electricidade”, indicou o mesmo responsável da Microsoft.

“Já temos vindo a falar da morte do telefone de secretária. Agora estamos a falar da morte da própria secretária. Não se trata apenas de trabalhar a partir de casa. Há muitas razões para se trabalhar a partir de um número variado de localizações”, frisou Coplin.


in Publico, por Susana Almeida Ribeiro

Novos Povoadores à conquista do Interior



"Sou a prova viva de que com Internet podemos trabalhar em qualquer lado"

Frederico Lucas tem 37 anos, três filhos e uma ambição: promover o êxodo urbano, trazer consumidores para os territórios de baixa densidade.
Com o projecto Novos Povoadores, de que é co-autor, quer também demonstrar que se pode ganhar dinheiro a partir de qualquer sítio. Ele está a tentar fazê-lo, a partir de Trancoso. E há muitas famílias interessadas em seguir-lhe os passos.
Por Luísa Pinto

Quando cheguei, estava deslumbrado. Vim para Trancoso em 2004, atrás da minha ex-mulher. Depois de termos vivido em Telheiras, mudámo-nos para Azeitão. Foi lá que nasceu o nosso terceiro filho, em 2002. Foi em Azeitão que fiquei quando nos separámos, com os dois mais velhos, de três e cinco anos, na altura. Eu trabalhava como consultor na área da comunicação. Demorava uma hora a chegar a Lisboa, e outro tanto a regressar, gastava dez euros por dia, já sem contar com combustível, que nem me lembro a quanto estava. Quando me mudei, os meus custos fixos passaram de 1750 euros por mês, entre casa e infantários e ATL dos filhos, para 390 euros.

Poder almoçar e jantar fora os dias que me apetecesse era uma coisa que havia saído há muito das minhas possibilidades.
Aqui, passaram-me a sobrar semanas. Deslumbrei-me. Também com a qualidade de vida. Uma pessoa pode entrar às nove e sair às cinco, ganhar três vezes mais do que paga de renda e infantários (que aqui são subsidiados por toda a gente, entre câmara, Misericórdia e Segurança Social). É uma tranquilidade. O único dia em que há trânsito, isto é, dois carros num semáforo, é à sexta-feira, em que há mercado semanal.

Lembro-me que nos primeiros dias, depois de chegar, deixavam-me um saquinho de legumes à porta. Fazem muito isso. Sabem que alguém chega, não tem terras cá, e lá nos põem à porta batatas, cenouras… é uma coisa muito agradável. Mas há o outro lado, o do controlo social. Dá-me um certo gozo dizer que se o meu filho sair da escola, e se eu perguntar a duas ou três pessoas, alguém saberá onde ele está. Mas isto também significa uma perda de privacidade e de anonimato a que estávamos habituados nas cidades, onde nem se sabe o nome do vizinho de baixo.
Uma vez cheguei de Lisboa, bati à porta da minha ex-mulher, e foi a do lado que se abriu, e foi a vizinha quem me disse: ‘Os seus filhos foram ao cinema.’ Temos de aprender a viver com isto. Eu não conhecia a senhora. Mas ela sabia que os meus filhos estavam no cinema. Aliás, aqui há dias, voltei ao cinema com eles em Lisboa. Foi um susto. Paguei 38 euros. Em Trancoso pagamos pouco mais de sete.

Foi aqui, em Trancoso, que conheci a Ana Linhares e o Alexandre Ferraz e que, a três, desenhámos o projecto dos Novos Povoadores. O Alexandre, que é do Pombal, tirou um curso de turismo, era recepcionista de um hotel, e veio para cá em 2002 porque foi aqui que encontrou um emprego qualificado.
A Ana é de Barcelos e veio atrás do Alexandre, e atrás de emprego.

Somos o Santo António
Foi aqui que nos cruzámos todos, e isto já é um sinal das dificuldades que pode haver na integração numa comunidade rural. Não é por acaso que três pessoas que são de fora é que se juntam. Porque há dificuldade. Se tivéssemos sido acolhidos de outra maneira, este projecto não teria sido concebido assim e até podia ter sido feito com pessoas de cá. projecto Novos Povoadores surgiu de uma conversa com o Alexandre. Começamos a partilhar as dificuldades do desenvolvimento nestes territórios. Se estes territórios têm qualidade de vida para oferecer, por que é que as pessoas não os habitam? Chegamos à questão simples: porque não têm emprego.
Mas, então, eu também não tenho emprego em Trancoso e é aqui que eu moro. Sou assim uma ave tão rara? Há mais pessoas que podem fazer isto.

Eu posso trabalhar a partir de qualquer lado – aliás, agora estou a pensar mudar-me para Marvão –, a única coisa que preciso é ter acesso à Internet. É a economia DNS (Domain Name Server). Com ela, as pessoas já podem vir para estes territórios de baixa densidade, que precisam desesperadamente de consumidores, mas que não têm empregos para oferecer. Com a economia DNS, já não é o território que gera o seu posto de trabalho. Os postos de trabalho ganharam independência geográfica, o meu contabilista pode estar em Vila Real, onde quiser, só tem de receber os meus papéis.
Eu vou contratar o contabilista que me for mais barato, e o que conseguir ser mais competitivo.
Eu fiz o mesmo. A minha tabela de honorários desceu 30 por cento, desde que me mudei para Trancoso, onde continuo a trabalhar como consultor de várias empresas. O trabalho para uma dessas empresas obriga-me a ir uma vez por semana a Lisboa.

Não sou formado em economia do desenvolvimento, nem em gestão territorial. Mas especializei-me a devorar estes temas, e a frequentar tudo o que é congressos e seminários. Acho que a economia acabou com os postos de trabalho, para haver cada vez mais empreendedores. Cada vez mais ganhamos em função das peças que fazemos e cada vez menos ganhamos um ordenado de uma empresa, mas sim de um projecto específico. Isso acontece comigo há já 17 anos. Foi o que sempre fiz.

Tirei um curso técnico de realização, que nunca utilizei, e sou a prova viva de que se pensarmos em algo com Internet podemos trabalhar em qualquer lado. E habitar estes territórios que nos dão qualidade de vida.
Sabemos que há pessoas que procuram estes sítios. Sabemos que há municípios que precisam de quadros qualificados, de consumidores. Nós somos o Santo António. Casamos território com pessoas. Estivemos três anos a discutir o projecto, a desenhá-lo. Não sabíamos como fazer deste modelo um negócio. Só o conseguimos em Dezembro de 2008, quatro meses antes de apresentar o projecto.

Ganhar dinheiro
Quem paga o nosso serviço são as câmaras, por cada cinco famílias que se mudam para o território, e que lá ficam pelo menos um ano.
Mas nós não cobramos um cêntimo às famílias, e não lhes pagamos, sequer, um café. As despesas e as poupanças serão todas por sua conta. Nós só as ajudamos a maturar este processo, esta ideia. Para que elas percebam que estes territórios têm muitas características boas, e outras menos boas.
Não andámos à procura de ninguém. As famílias que se querem mudar é que nos procuram no site [http://www.novospovoadores.pt].
E trabalhamos com municípios aderentes, com aqueles que têm verdadeiramente um projecto, um objectivo.

(...)

Nós não somos uma agência imobiliária, mas ajudamos a identificá-las nos territórios que as famílias querem ocupar. Não somos agência de emprego, mas ajudamos a criar empreendedores.
E não procuramos só projectos de turismo e de agricultura biológica.
Os territórios de baixa densidade são sistematicamente vistos como oportunidades sempre coladas ao turismo. O que sabemos é que o turismo cresce e representa normalmente à volta de 20 por cento da actividade económica do país. E não cresce mais porque as pessoas procuram territórios autênticos, não vão para os sítios onde está tudo feito para o turista.
Trancoso tem 16 mil turistas por ano. Se duplicarmos o número de turistas, para 32 mil, e não há exemplos destes, ganhamos três dias de autonomia anual de orçamento municipal. Temos de multiplicar por cem o turismo para deixarmos de depender do orçamento [público]. Não é por aí que vamos conseguir a independência que se está a pedir aos territórios.

Eu acho que o interior sofre de excesso de dinheiro. Os recursos humanos desses territórios são indiscriminadamente integrados nos municípios, e, por falta de trabalho, são “anestesiados” para nada produzirem. São recursos com os quais o território deixa de poder contar para qualquer estratégia para a sua competitividade. E os outros, os empreendedores locais, são contratados pelos municípios ao preço que lhes é confortável para manterem o seu quadro de pessoal.
Deste modo não lhes resta qualquer motivação para competirem, ainda menos no mercado global. Receio que em muitos casos esta falta de visão estratégica não seja obra do acaso. E nesses locais não haverá projecto Novos Povoadores, com toda a certeza.

in Público, Luísa Pinto

Alguém sabe a morada do Plano Tecnológico?

Sempre que faço esta pergunta tenho o endereço web como resposta: http://www.planotecnologico.pt
Mas se em vez disso perguntar pelo Ministério da Educação, ninguém deixará de responder “5 de Outubro”!

E a diferença é simples: O Ministério da Educação é anterior à geração WEB. Já existia antes disso.
O Plano Tecnológico já nasceu no “nosso tempo”. Tal como o Nespresso ou como a marca de impressoras Brother cuja sede ninguém imaginará a não ser o seu DNS.

Usei esta forma simples para demonstrar a enorme revolução que estamos a assistir de forma consensual.

E esta revolução marca toda a diferença no contexto territorial.
Hoje as organizações têm um endereço web e os seus colaboradores vivem onde mais lhes interessar.

São centenas de estórias que já escutei de instaladores residenciais de internet que andaram no sul e no norte do nosso país a instalar a internet em casas de grandes “carolas”, isto é, investigadores e empresários que operam virtualmente em Londres, Dubai ou Frankfurt conciliando essa actividade com a residência num país acolhedor e solarengo como é Portugal.
Aqui vivem, aqui educam os seus filhos, aqui pagam impostos, aqui consomem, aqui adquirem as suas casas.
Mas se recebermos destes um cartão de visita, teremos uma morada postal e um telefone do mercado onde operam. E um endereço web que é o “head-office” empresarial!

E porque motivo escolheram estes pioneiros da Economia DNS o nosso país para viver?
Seremos a primeira Aldeia Global? Serão a nossa história, a nossa cultura e a nossa tolerância, os condimentos territoriais de um mundo que caminha para a rede?

in Criar2009

Já Vencemos!(*)



Foi em 25 de Setembro de 2005 que inaugurei o projecto "Inovação & Inclusão".

Nesse periodo a gestão autárquica nos territórios de baixa densidade era marcada pela perspectiva de angariação de industrias ou pela dinamização do turismo.

Defendia nessa data algo que poucos compreendiam: O futuro do "interior" está na captação de massa crítica, gente capaz de induzir dinamismo económico e social

Este era um objectivo conhecido e compreendido para as cidades universitárias mas muito mal aceite para os territórios de baixa densidade.

Nas apertadas curvas da vida conheci Alexandre Ferraz. Para além de um ser admirável, preocupava-se com dinamização de pequenos negócios num território multimunicipal da Beira Interior.

Um paper de António Covas com o título “O espaço rural: de espaço-produtor a espaço-produzido” foi o nosso rastilho para compreendermos que não estávamos sos nessa vontade de repensar o "interior".

A certeza de que se tratava de um desígnio veio com o então recem eleito Presidente da República e o seu Roteiro para a Inclusão.
Chegou-nos também daí uma mensagem de estímulo assinada por Nunes Liberato.

E hoje chegámos a um ponto admirável: É consensual que o futuro do interior passa pela concorrência directa aos territórios metropolitanos. Passou de território paraplégico e envelhecido a espaço de futuro. Está entre as melhores ofertas territoriais a nível europeu para actividades suportadas na economia digital.

Esta manhã, enquanto tomava café, Manuel Frexes confirmava em directo na RTP que o Fundão dispunha hoje de condições para acolher população metropolitana.
Pode parecer banal. Mas a frescura deste discurso contrasta com tudo o que se dizia até há poucos meses atrás.

Creio que a mensagem do projecto Novos Povoadores já passou!

Obrigado! Conseguimos. COLECTIVAMENTE!

(*) Nas longas noites de violência que sucederam o referendo timorense, alguém explicava na TSF que para eles o simples facto de resistirem já era uma vitória!
Ocorre o mesmo com o "interior". Tivemos a capacidade de resistir à imagem debilitada que lhes quiseram atribuir. E hoje, esse território é a imagem do futuro, deixando para os engarrafamentos de trânsito e para os minusculos escritórios o retrato da sociedade "old fashion".

"Somos muito maiores que a nossa dimensão!"


A frase que emprestou o título a este post é da autoria de Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros e referia-se à capacidade de intervenção de Portugal no panorama internacional.

Defendia o governante que a nossa cultura e história funcionam como catalizadores nos quadros negociais das diferentes organizações em que participamos.

A reflexão que se segue é sobre os novos factores de competitividade económica. Sabemos que não são exactamente os mesmos que no passado: O poder militar, industrial e financeiro continuam centrais, mas já não absolutistas.

Hoje, o povo português é admirado pela sua simpatia, tolerância religiosa e por um território seguro e com excelentes condições climatéricas.

Na prática, temos todas as condições para ser o El Dorado da mão de obra qualificada que estão suportadas nas tecnologias digitais.

E esse é um motivo de enorme esperança!

As empresas caminham para sedes virtuais - nespresso.com e brother.com são dois exemplos que me ocorreram instantaneamente - e os sistemas de teleconferencia estão totalmente vulgarizados.

O que nos falta?!

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Novos Povoadores - Conquistar massa crítica para o interior do país

From iRegions

O dia-a-dia frenético das grandes cidades leva muitas famílias ao desejo de viver no interior do país. A centralização de serviços e do emprego nos centros urbanos «prende» quem lá vive e atrai um número crescente de pessoas. Para trás fica um interior com algumas infra-estruturas mas com falta de gente activa. O projecto Novos Povoadores quer inverter esta tendência e conquistar massa crítica para o interior do país, imprimindo-lhe uma nova dinâmica. Qualidade de vida e desenvolvimento rural são as premissas de um projecto fundado em Trancoso. O Café Portugal falou com Frederico Lucas, um dos responsáveis por uma iniciativa que se completa com Alexandre Ferraz e Ana Linhares.

Café Portugal - O projecto Novos Povoadores tem como principal objectivo desenvolver o interior do país. Fale-nos sobre esta iniciativa.
Frederico Lucas - O projecto Novos Povoadores surge da iniciativa de três amigos com interesse em dinamizar o interior de Portugal. A ideia tem por base um diagnóstico sobejamente conhecido: por um lado um vasto território mergulhado na problemática da interioridade, por outro, duas grandes áreas metropolitanas que concentram grande parte da economia do país, recursos humanos inclusive. Uma situação que urge travar para um maior equilíbrio territorial, fortemente encorajado pelo uso crescente das novas tecnologias e também pelo índice de saturação que vem afectando as pessoas imobilizadas na correria urbana. O projecto procura, por um lado a introdução de massa crítica em territórios de baixa densidade. Fundamentalmente, pretende-se que os Novos Povoadores venham ajudar a dinamizar o território. Com a sua experiência, a sua capacidade empreendedora, o seu dinamismo, vão imprimir um novo ritmo no desenvolvimento das regiões. Por outro lado, a melhoria da qualidade de vida das famílias: as famílias que optam por deixar as áreas metropolitanas beneficiam de todas as vantagens associadas a uma vida mais oxigenada em meio rural.

CP - O empreendedorismo é um dos pontos de referência que a família «Novo Povoador» deve possuir. Na ficha de candidatura pedem uma ideia empreendedora. Esta deve ser apresentada desde logo pelo candidato?
F.L. - Considerando o objectivo do projecto, introduzir massa crítica nos territórios de menor densidade, o factor empreendedorismo é importante e desejável devendo corresponder a uma ideia do candidato. Saliente-se, contudo, que não é indispensável avançar com um modelo de negócio por conta própria para responder aos objectivos do projecto. A própria personalidade dos Novos Povoadores pode gerar dinâmicas que estimulem a economia local. O facto de ter uma participação activa na sociedade civil nos mais variados domínios (lazer e bem estar, desporto, cultura, política) pode efectivamente «energizar» o território e ter um efeito multiplicador junto dos restantes habitantes.

CP - As famílias interessadas podem escolher uma localidade a nível nacional, ou restringem-se a uma região?
F.L. - Na fase experimental os candidatos nomeiam apenas os distritos. A partir de 2011 as famílias poderão definir uma aldeia.

CP - Os Novo Povoadores querem imprimir uma nova tendência no mercado. Existe, contudo, um número limitado de famílias a beneficiar deste projecto?
F.L. - Não existem números fixos. O projecto Novos Povoadores ambiciona acelerar uma tendência pelo que quanto maior o número de candidatos maiores são as probabilidades de identificar as famílias que reúnem as condições para iniciar o processo de mudança. Quanto ao processo migratório é desejavelmente um processo lento dado o nível de compromisso que implica. Tem de se verificar um período de reflexão e amadurecimento da ideia antes de completar o processo. A metodologia de intervenção do projecto Novos Povoadores prevê nesta medida várias visitas ao território com vista à criação de laços com a região que constituirão referências importantes na integração das famílias.

CP - Centremos, agora, a conversa no desenvolvimento regional. O que falta em Portugal para alavancar o país interior?
F.L. - O diagnóstico existe, é exaustivo, multiplicando-se os estudos e planos estratégicos de Norte a Sul de Portugal. Não há um município que não esteja implicado numa estratégia de desenvolvimento supra-municipal. Isto é, no plano teórico, podemos considerar que o país está muitíssimo bem preparado mas não tem existido o incentivo necessário para mobilizar a iniciativa privada a optar pelo interior do país. Um interior infra-estruturado que continua à espera de ser potencializado. Numa economia sem geografia onde o capital intelectual vem conquistando novas fronteiras, onde a inteligência colectiva formata um novo pensamento, a desmaterialização da economia abre um vasto campo de possibilidades também no meio rural. O que falta então? A coesão territorial é um acto de cidadania que a classe política não tem sabido mobilizar. Sem liderança, sem estímulo, sem confiança, dificilmente os actores económicos - motor do desenvolvimento - iniciarão um processo massivo que venha a equilibrar a geografia económica do país. Contudo, há espaço para visionários.

CP - No passado foram já empreendidos projectos como o vosso. O que tem este projecto de desenvolvimento regional que o distingue dos outros e pode torná-lo um caso de sucesso?
F.L. - É um projecto que apresenta uma solução clara a uma problemática complexa. Responde aos anseios de uma população citadina cansada do ritmo frenético e apresenta uma solução inovadora às regiões menos desenvolvidas. Traduz uma visão integrada de desenvolvimento territorial.

CP - As três pessoas envolvidas neste projecto vivem no interior. São já um exemplo de novos povoadores?
F.L. - A ideia surge em Trancoso. Encontrámo-nos nesta bela Aldeia Histórica de Portugal, oriundos de 3 sítios bem distintos. A Ana é de Barcelos, o Alexandre de Pombal e o Frederico de Lisboa. A trajectória pessoal e profissional fez com que optássemos por um ritmo mais tranquilo, pelo que sim, somos Novos Povoadores.

in Café Portugal, Sara Pelicano

Munícipios do interior perdem 10% de populaçãopor ano

por Ana Tomás Ribeiro



A desertificação do interior do país continua a crescer e boa parte destas autarquias perdem anualmente entre 10% a 15% da população, disse ao DN o presidente da Associação Nacional dos Municípios. O projecto Novos Povoadores, que quer levar para lá quem vive nas grandes cidades, já contava ontem com mais de cem famílias candidatas à mudança.

A desertificação do interior do país continua a crescer. "Uma parte dos municípios do interior já está a perder anualmente entre 10% a 15 da sua população " ,disse ontem ao DN o presidente da Associação Nacional dos Municípios, Fernando Ruas, baseando os seus cálculos em dados dos censos populacionais. Uma percentagem que virá a agravar-se se nada se fizer para travar o problema.

O autarca diz que não existem políticas nacionais para combater o problema, que não se resolve apenas com medidas locais. Pelo contrário, diz, há até políticas nacionais que têm "incentivado ou acelerado o despovoamento de algumas regiões, como é o caso do encerramento de serviços públicos" , como as maternidades. As grandes obras públicas que o Governo quer levar por diante são para o representante dos autarcas, projectos importantes para o país em termos de combate ao desemprego. "Mas uma parte da mão-de-obra para as executar também sairá do interior e isso poderá ser mais um factor a contribuir para a desertificação".

A prioridade da associação é travar a saída de mais pessoas do interior e fixar as famílias que lá existem. Com esse objectivo aquela estrutura associativa apresentou recentemente ao Governo um programa de combate ao problema que exige apoios estatais da ordem dos 730 milhões de euros com os quais "os munícipes podiam alavancar quer o emprego quer as economias locais", referiu Fernando Ruas. Aguardam agora pela resposta governamental.

Quanto a atrair pessoas dos grandes centros urbanos para essas regiões, um objectivo do projecto Novos Povoa- dores, cujos primeiro dados foram divulgados ontem pelo DN, considera que é importante, mas não prioritário.

Seja como for o projecto criado por três amigos - Frederico Lucas, Ana Linhares e Alexandre Ferraz (ver caixa perfis) - e que conta, na sua implementação com a parceria do Intec, Instituto de Tecnologia Comportamental, e coma experiência de Patrícia Palma e Miguel Lopes (ver caixa)- já contava ontem com mais de cem famílias candidatas a deixar os grandes centros urbanos para irem viver para uma cidade de média dimensão.

A primeira autarquia a acolher alguns destes novos povoadores, que deverão mudar-se no início do próximo ano lectivo, será Abrantes. A Câmara local e a Associação Tagus Vallei, a promotora do Tecnopólo Vale do Tejo, deverão assinar o protocolo com os Novos Povoadores ainda em Abril , disse ao DN Céu Albuquerque, vereadora do ambiente e desenvolvimento económico daquela autarquia (ver reportagem no texto ao lado). Numa primeira fase vão acolher 20 famílias. Mas há já outros municípios interessados na ideia.

in DN

33 famílias serão Novos Povoadores do interior em Setembro

por Ana Tomás Ribeiro



Há 277 municípios a precisar de recursos humanos. E famílias de grandes cidades a quererem mudar de vida. O projecto Novos Povoadores é o ponto de encontro.

Há 277 municípios a precisar de recursos humanos qualificados e de gente empreendedora capaz de criar projectos geradores de emprego, com efeito multiplicador, e de competir a nível internacional. E há certamente famílias nos grande centros urbanos com vontade de mudarem para a província, para desenvolver um projecto próprio tendo mais qualidade de vida.

Foi nisto que Frederico Lucas pensou quando decidiu desafiar dois amigos, a Ana Linhares, socióloga, e o Alexandre Ferraz, técnico de uma associação de desenvolvimento local em Trancoso, para criarem conjuntamente o projecto Novos Povoadores (divulgado pela Visão há duas semanas), que tem como objectivo encontrar, nos grandes centros urbanos, candidatos à altura das necessidades regionais. Depois era preciso encontrar um parceiro que os ajudasse a pôr em prática o desafio. Encontraram o Intec - Instituto de Tecnologia Comportamental. Assim, o projecto só começou a ser posto em prática em Dezembro.

De então para cá já se candidataram 25 famílias. "Mas daqui por um mês já devemos ter 100 candidaturas. Uma estimativa que faço de acordo com o número de contactos que temos recebido", explica Frederico Lucas.

Para garantir o sucesso da família na sua nova vida, um dos membros do casal deverá ter um emprego assegurado, quer por via da transferência da sua actual entidade empregadora ou de uma entidade da região que o venha previamente a contratar. O outro membro da família terá de desenvolver um projecto empreendedor, para o qual conta, desde logo, com apoios de várias entidades, incluindo do próprio município.

Contudo, das cem famílias que deverão ser candidatas dentro de um mês, só um terço concretizará a mudança. Ou seja, 33.

De acordo com o cálculos de um dos mentores do projecto, "a maioria vai desistir ou prorrogar a decisão a meio do processo de aproximação à nova realidade. Um processo que pretendemos fazer de uma forma lenta, e com várias etapas, para que os candidatos se apercebam de todos os prós e contra" (ver caixa com passo a passo). Os que vão desistir, diz Frederico Lucas, fazem-no essencialmente por questões culturais. As que se mantêm mudam-se no começo do próximo ano lectivo, em Setembro, para uma cidade ligada por auto-estrada. Porque os mentores do projecto Novos Povoadores querem iniciar a experiência piloto num centro urbano de fácil acesso. Em cima da mesa estão várias hipóteses: Castelo Branco, Évora, Abrantes. Uma ilha nos Açores também está a ser estudada.

Entre as 15 famílias que já estão em processo de avaliação, há casais sem filhos e famílias numeroas (com 5 pessoas ), muitos profissionais da comunicação, marketing, engenheiros e projectistas, bem como emigrantes que regressaram ao país e querem investir em projectos de turismo rural.

in DN

Viver na Cidade ou no Campo?!


Professor catedrático na Universidade do Minho, José Mendes tem estudado a dinâmica das cidades e o ordenamento do território. Em 1999 publicou o estudo 'Onde viver em Portugal - uma análise de qualidade de vida nas capitais de distrito'. À GINGKO sistematizou as vantagens e desvantagens da vida nos grandes centros e nos meios mais pequenos. Solução? Desenvolver as cidades médias.

GINGKO - Depois do êxodo rural, há quem fuja dos grandes centros. É possível conciliar a cidade e o campo?

José Mendes - A questão campo versus cidade é hoje mais pertinente do que nunca. Avanços recentes no domínio das comunicações e da desmaterialização das actividades permitem alimentar a ideia de que é possível a qualquer um manter-se profissionalmente activo e integrado e, simultaneamente, viver fora dos meios congestionados das grandes urbes. Isto é verdade e... não é verdade.

G - O que distingue os dois meios?

JG - Num extremo estão as grandes cidades onde tudo acontece: os negócios, as oportunidades, os eventos, a cultura, o entretenimento, as melhores escolas. E também o congestionamento, o tráfego, a poluição, e a habitação mais cara. No outro extremo está o campo onde nada acontece: nem negócios, nem oportunidades, nem eventos, nem cultura, nem entretenimento, nem boas escolas. E também não há congestionamento, nem tráfego nem poluição, e a habitação é mais barata.

G - Onde se vive melhor?

JG - Depende do conceito de qualidade de vida. Se os almoços de negócios e as peças de teatro estão na rota da minha qualidade de vida, então quero estar na grande cidade. Se acho que as horas desperdiçadas em filas de tráfego ou o ruído ensurdecedor das ruas carregadas de tráfego arruínam a minha qualidade de vida, então quero viver na tranquilidade do campo. Mas, se preciso de almoços de negócios e também não quero estar horas dentro do automóvel em filas infindáveis? Bom, aí a questão não é líquida.

G - Qual a solução?

JG - A solução ideal seria que as grandes cidades funcionassem de forma mais sustentável, com bons transportes públicos, muitos parques, esquemas de acalmia de tráfego, pistas cicláveis, regras de controlo de poluição e ruído. Ou ter áreas rurais com boa acessibilidade, boas escolas, banda larga e eventos culturais. Isso é possível? Talvez. Cidades como Viena, Copenhaga ou Sydney deram passos importantes nesse sentido. Áreas rurais de alguns países nórdicos também evoluíram favoravelmente. Nem umas nem outras fazem o pleno. No balanço da contabilização da qualidade de vida, as cidades, mesmo as megacidades, continuam a levar vantagem. Isto porque o Homem é uma espécie com comportamentos e necessidades marcadamente sociais, que vive e se realiza através da interacção, do movimento, da riqueza e da sinergia que resulta da concentração de pessoas e de actividades. O campo pode ser tranquilizador e ter o rótulo de inspirador, mas é na cidade que nasce a criatividade, que se forjam os artistas e as obras que referenciam a nossa existência.

G - Portanto, o melhor é viver em cidades?

JG - Apesar de tudo, mesmo com as cidades a levar vantagem enquanto destino da nossa felicidade e garante da nossa qualidade de vida, a poluição e as filas de trânsito continuam lá. E ninguém gosta delas. Enquanto não temos cidades ideais, se é que algum dia existirão, a solução mais equilibrada é viver nas cidades médias. Têm hoje muito do que se encontra de bom nas grandes cidades e pouco do que se encontra de mau nessas mesmas cidades. Os recursos virtuais, a banda larga na cidade média, colmatam muito do que um profissional activo e cidadão exigente precisa para se realizar.

G - E onde se vive melhor em Portugal?

JG - Nas cidades médias. Temos cidades médias? Sim e não. Sim porque existe Braga, Coimbra e Aveiro, com elevadíssimo potencial, apenas parcialmente realizado. Não porque não há uma política de cidades médias em Portugal, o que faz com que as três referidas estejam muito aquém do potencial que encerram, e que outras como Évora e Faro simplesmente não descolem. E porque é precisa uma política de cidades médias em Portugal? Porque é a melhor solução para o país e, sobretudo, para Lisboa e Porto. É nas cidades médias que reside boa parte do nosso futuro. Que lufada de ar fresco seria para este país, se nas eleições autárquicas de 2009 os candidatos deixassem na gaveta os planos de mais infra-estruturas e apresentassem visões e propostas centrados na qualidade de vida e na competitividade das suas cidades.

in Gingko

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