Novos Povoadores®

Apoiamos a instalação de negócios em territórios rurais

Estamos preparados para responder ao "Bleisure"? *


A RTP3 emitiu na passada terça feira o documentário "The Future of Travel"/O Futuro das Viagens, onde convidava o espectador a reflectir sobre o futuro do turismo e a sustentabilidade dos meios para as realizar.

O maior ativo do Turismo sempre foi o desejo dos consumidores em visitar realidades distintas. Hoje, este ativo é ainda mais valioso.

É difícil prever com precisão o perfil exato do futuro turista, mas é esperado que existam mudanças devido ao impacto da pandemia na sociedade.
O condicionamento à mobilidade durante um periodo prolongado de tempo criou nos consumidores o desejo por mais e melhores viagens. Se uma viagem é realizada em periodo de férias, com uma ida e regresso num curto periodo de tempo, a pegada ecológica é necessariamente elevada.

O equilibrio entre a vida familiar e o trabalho está na agenda há várias décadas. A novidade é a popularização das viagens que conciliam férias com trabalho, no estrangeirismo "bleisure" - aliança entre negócios e lazer - para maximizar o tempo e o investimento dessas viagens.
Com a adopção generalizada do trabalho remoto, as pessoas passaram a ter mais flexibilidade para conciliar o trabalho com o lazer durante essas viagens.

Os viajantes que usam tecnologias para trabalhar e viver de forma remota têm necessidades e preferências diferentes dos viajantes tradicionais. É por isso importante preparar os territórios para esta nova realidade:

a) Hotspots WiFi gratuitos e estabilidade de sinal;

b) Transformação das bibliotecas municipais em espaços colaborativos: estes viajantes gostam de estar em contato com outras pessoas que compartilham suas necessidades e interesses.

c) Qualidade na informação ao turista: tratando-se de pessoas que não conhecem a região, informação útil sobre eventos na REGIÃO e recursos para saúde, alimentação e lazer são altamente valorizados.

A importância do turismo para os territórios rurais é inegável.
Preparar o território para esta realidade é meio caminho andado para o seu desenvolvimento.


* texto escrito com recurso ao ChatGPT

"Os séniores podem ser os investidores de risco das novas ideias."

Deb During Brown esteve em Lisboa a convite do Programa Novos Povoadores, para participar num Think Tank no NOW_Beato.
Quisemos saber o estado da arte do repovoamento "rural" nos Estados Unidos, por uma das maiores ativistas.


Como nasceu o projeto Saveyour.town?
Na verdade é um negócio! Trabalhamos com comunidades rurais para ensiná-los passos práticos para um futuro melhor. Becky McCray e eu somos pessoas da zona rural e trabalhamos em áreas rurais e pequenas cidades. Unimos forças em 2015.

O que faz exatamente o vosso projeto?
Temos várias formas de ajudar as pessoas. Temos um boletim informativo gratuito (www.saveyour.town/subscribe), vídeos todos os meses que enfocam os desafios rurais, falar em público em conferências e eventos e visitas locais.
SaveYour.Town fornece etapas práticas para ajudá-lo a moldar um futuro melhor para sua vila ou comunidade rural, não importa quão pequena seja.

Somos especialistas em soluções de baixo custo, aquelas que funcionarão até mesmo nas comunidades rurais. Promovemos a recuperação de edifícios vazios, Desenvolvimento Económico de áreas industriais e ideias de baixo-custo para a criação de espaços comerciais no centro das Vilas, através de vídeos curtos, cursos mais longos e conjuntos de ferramentas.

Para ações presenciais, eu e a Becky McCray oferecemos palestras, workshops e visitas de ação aprofundadas.

Como a tecnologia pode melhorar as nossas comunidades rurais?
Agora podemos comunicar com as comunidades rurais com mais facilidade graças à tecnologia. As pessoas querem visitar e migrar para as vilas! A maneira como elas as descobrem é por meio de recursos on-line. Ao usar a tecnologia, as empresas rurais podem promover seus negócios fora de suas comunidades e permanecer conectadas com seus clientes.

Poderá o planeamento e o investimento em estruturas de apoio social resolver grande parte dos problemas destas comunidades despovoadas?
Essa é uma pergunta difícil sem uma resposta rápida. O que tenho certeza é que, se a comunidade está disposta e quer ser salva, o planeamento e o investimento em estruturas de apoio social são vitais. Nós olhamos para o planeamento um pouco diferente: queremos que TODOS os que queiram envolver-se e tenham ideias, sejam convidados para a mesa. Não criamos planos de longo prazo (que acabam na prateleira). Planeamos conforme avançamos. Experimente todas as ideias, veja o que funciona.

Como é que num mundo globalizado se aposta no local, acessível e sustentável?
Como é que alguém não aposta no local, acessíveis e sustentáveis? Somos administradores dos nossos lugares e acreditamos que a acessibilidade, os serviços locais e a sustentabilidade ajudarão a manter nosso planeta vivo.

Como atrai os jovens para esses locais?
Não tenha medo de deixá-los experimentar suas ideias. Dê-lhes o poder de tomar decisões. Coloque-os no comando. O que eles querem? Escute-os. Encontre uma maneira de realizá-lo.

E que papel têm os anciãos?
Todos nós estamos presos nesse espaço entre o ontem e o amanhã. Ganhamos nossa experiência nas velhas formas de fazer as coisas, mas essas formas não estão a funcionar como no passado.

Alguns têm medo do futuro, esse medo do desconhecido e, claro, do risco de fracasso. No entanto, para prosperar, todos precisamos olhar para o futuro. Os menos jovens podem ser os investidores de risco das novas ideias.

Vamos até eles para conhecer suas ligações, as pessoas que eles conhecem e que podem ajudar. Reconheça-os e respeite o que eles trazer para a mesa. E os anciãos precisam de estar mais abertos, para permitir que todos participem.

Pode dar-nos exemplos concretos do que seu projeto já alcançou?
Sim! Adoramos contar histórias de ideias e projetos que estão a funcionar. Convidamos os leitores a visitarem a página https://saveyour.town/results-real-people-real-towns/ para conhecerem as nossas concretizações.

* Entrevista conduzida por Sara Pelicano, Welectric.

Casas pequenas para todos!

Jacques Stiernet é um arquitecto de ascendência belga e fundador da empresa portuguesa TinyLar, empresa dedicada à construção de mini-casas móveis, que se destacam pelo seu design e qualidade construtiva: gestão óptima dos espaços, multifuncionalidade de todos os equipamentos, madeiras termo-tratadas, skylights de grandes dimensões no quarto e revestimentos a zinco.
Para além de um design com inspiração orgânica.

Se o nomadismo está associado ao início da Humanidade, o sedentarismo apresentou-se como a evolução para uma sociedade mais urbana, cosmopolita e estática.
No século passado, o nomadismo esteve associado ao preconceito da falta de raízes e de cultura.
Uma análise histórica revela que os maiores pensadores estiveram associados a viagens e a movimentos migratórios, onde absorviam o conhecimento de diferentes culturas.

O acesso universal à informação - conquista do séc. XXI - que poderia indiciar uma sociedade menos dependente dos movimentos migratórios, despertou diferentes interesses na população pelo nomadismo: enquanto os mais jovens preferem residências sazonais em diferentes países ou mesmo continentes, os mais idosos procuram imersões menos cronometradas em contextos distintos: os slowmads!

Para esses, a resposta das Tinyhouses é normalmente sem rodas e com a cama principal no andar térreo.
A Kodasema, líder europeia em habitações transportáveis, desenvolveu o modelo Koda Extended para este segmento de mercado.

Este novo conceito habitacional, também associado à redução de custos com a habitação, fez disparar o Do It Yourself (DIY): com frequência, os produtores destas mini-casas confessam a Bryce Langston do canal de Youtube Living Big in a Tiny House / Viver à Grande numa Casa Pequena que foi a primeira vez que usaram um serrote ou uma rebarbadora.

A Eugénia e o Pepe, um casal espanhol que escolheu Portugal para viver, publicaram no seu canal de Youtube o passo-a-passo da construção da sua Modern House Cabin: um alojamento para duas pessoas que alegam ter custado 5.000 euros.

O projecto da casa está disponível para download por 60 euros.

A este propósito, a pergunta mais frequente é sobre a legalidade da permanência destas casas em terrenos rústicos.
Não existe uma resposta taxativa sobre este assunto, mas já existem vários especialistas em Direito Imobiliário a trabalhar este tema.
Muitas vezes, a autorização de permanência não excede o periodo de três anos, um prazo suficiente para a experiência residencial dos nómadas digitais e analógicos.

A Pandemia Covid-19 permitiu compreender o potencial do teletrabalho.
Hoje, uma parte significativa dos trabalhadores intelectuais não aceita trabalhar em escritórios dos clientes, pela insustentabilidade energética e condicionamento ao estilo de vida que escolheram.

A necessidade de redução do consumo energético, da resposta aos constrangimentos da invasão russa à Ucrânia e o aumento da competitividade na produção para absorver a inflação, promove uma procura atípica pelos departamentos de recursos humanos a trabalhadores com maior capacidade de adaptabilidade e resposta a contextos dinâmicos.

Inevitavelmente, serão as empresas que melhor se adaptam aos sucessivos contextos que sobrevivem em mercados concorrenciais.

Linha Regenerar Territórios


O Turismo de Portugal reabriu a linha Valorizar, agora com a designação "Transformar o Turismo".
Dentro desse programa, foi criada uma linha específica para os investimentos corpóreos em baixa densidade com a designação "Linha Regenerar Territórios" como p.e. construção de Alojamentos Locais ou aquisição de equipamentos para atividades de animação turística, até ao limite de 300.000 euros de investimento, dependente do perfil da entidade promotora.

Os apoios são concedidos com 50% do valor financiado como não reembolsável (fundo perdido), mediante o cumprimento do projecto.

Para mais informações através do e-mail info@trilhosdoconhecimento.pt ou +351 271 817 000

O Regresso da Indústria*


Durante várias décadas, Portugal acreditou que o desenvolvimento da Economia dependia de quadros altamente qualificados e menos de uma estratégia de formação comercial e industrial, que decompôs após o período revolucionário.

Resulta dessa estratégia um incremento elevado de estudantes no ensino superior, em detrimento do ensino profissional.
Todos os estudantes que não se reviam no modelo do ensino superior, foram atirados durante décadas para profissões administrativas, trabalhos manuais e repetitivos.

O nr de patentes é internacionalmente reconhecido como o melhor indicador de inovação de um país.
Na União Europeia é criada anualmente e em média uma patente por cada 6 128 habitantes.
Em Portugal, durante o ano de 2020, foi criada uma patente por cada 36 764 habitantes, apesar de uma melhoria de 23% sobre o ano anterior.

Se a industria está maioritariamente concentrada na China, que compete de forma desigual com os restantes países, a atual disputa na autoria dos produtos: Made in versus Design in.

Para ultrapassar a letargia económica, Portugal precisa de criar contexto para o desenvolvimento de novos produtos e serviços centrados nas necessidades atuais e futuras do mercado.

O atual contexto pandémico mostrou ao mundo as suas fragilidades, em especial os riscos de contaminação em elevados aglomerados populacionais.
Estes novos riscos juntam-se a outros bem conhecidos como a poluição atmosférica e sonora, cujas consequências são amplamente conhecidas.

O nomadismo regressou em força com as novas gerações, e existe uma ausência generalizada de soluções para este novo segmento, que desenvolve individualmente as respostas para as suas necessidades.
Quando uma organização com a dimensão do IKEA identifica essa lacuna e responde com uma solução, existe uma evidência sobre o novo contexto que se aproxima.

Portugal tem todas as condições para ser um centro de incubação e desenvolvimento deste novo modo de vida: hajam politicas e empreendedores capazes de escrever soluções para este novo futuro.

* Regresso da Indústria é um programa da Rádio Observador que inspirou o presente texto, imagem da nova casa transportável do IKEA

e-Villages

Portugal tem um milhão de imóveis em estado de ruina, muitos deles nas aldeias.

A emigração e a revolução industrial foram o mote para o despovoamento, promovendo a ascensão social da população rural.

Passaram seis décadas, e a realidade mostra-nos hoje que uma parte significativa da população empregada em meio urbano vive no limiar de pobreza.
Perante isto, os jovens que procuram local para residir, evitam os elevados custos com habitação nas cidades e optam por soluções à sua medida: periferia das cidades; casas e quintinhas em meio rural; autocaravanas.


Mas existe um problema cuja solução parece mais complexa: apesar de abandonadas, as ruinas em meio rural não estão à venda.
Por ser herança, os proprietários não pretendem alienar essas ruinas, e os interessados ficariam sem oportunidade de viver nessas aldeias, participando assim no seu processo de repovoamento.
A solução que tem sido encontrada é o contrato de Comodato, que permite ao comodatário recuperar e habitar o imóvel e ao comodante manter a propriedade sem custos de recuperação e manutenção.
E este parece ser o caminho mais óbvio para o processo de repovoamento.

Porque pretendem os jovens viver nas aldeias despovoadas?

Uma parte significativa dos nossos jovens está atenta às alterações climáticas e procura estilos de vida longe da poluição citadina.
E para esses jovens, consequência das alterações aos modelos de trabalho, fazem-no a partir de qualquer lugar, desde que tenham acesso à internet.
E por isso, um país com uma das maiores taxas de cobertura de internet, com sol durante todo o ano, afirma-se como um atrativo para essa geração.

E as aldeias, estarão preparadas para receber novos residentes?

Em Aldeia, uma aldeia de Cinfães, a população não acreditava que aqueles jovens estudantes da Universidade do Porto que visitavam há um ano aquele lugar cumprissem a sua promessa de ali viver.
E assim aconteceu: quatro jovens instalaram-se nessa aldeia, na casa dos familiares de um colega de universidade.
Estão a desenvolver o projecto “Casa da Abóbora”, que engloba permacultura, turismo meditativo e residências artisticas.
É um novo recomeço para quem chega, e um alento para a aldeia.

Na Madeira, e com o apoio da Secretaria Regional da Economia, criaram um espaço para “Nómadas Digitais” na vila da Ponta do Sol.
São esperados muitos “trabalhadores remotos”, pessoas e casais que trabalham online.

O movimento já começou. Cabe a cada freguesia, a cada lugar anunciar o seu interesse para acolher novos residentes para que isso possa acontecer.

Depois do e-mail, que revolucionou a forma como comunicamos, as e-villages vão revolucionar a forma como vivemos.


Frederico Lucas, coordenador do Programa Novos Povoadores

info@novospovoadores.pt

Linha do Turismo de Portugal reforçada em 300M euros




Em 2021, o Turismo de Portugal, em parceria com o sistema bancário, renova e reforça em 300 milhões de euros a Linha de Apoio à Qualificação da Oferta, um instrumento financeiro para apoio às empresas do setor do turismo.

Este valor é destinado ao financiamento a médio e longo prazo de projetos turísticos que se traduzam:
- requalificação e reposicionamento de empreendimentos, estabelecimentos e atividades, ou
- criação de empreendimentos, estabelecimentos e atividades implementados nos territórios de baixa densidade, ou
- empreendedorismo.

Para mais informações, contacte através do e-mail info@trilhosdoconhecimento.pt ou +351 271 817 000

Fotografia: Cabin ANNA, designed by Caspar Schols

“Vamos reforçar seguramente a linha de apoio à qualificação da oferta"

LUSA/RUI FARINHA
“Vamos reforçar seguramente a linha de apoio à Qualificação da Oferta, agora dirigindo não apenas para aquilo que era a qualificação da economia circular, da eficiência energética, do ambiente, mas também os apoios à adaptação a um contexto de reforço das medidas sanitárias que as empresas têm de fazer para acolherem os seus hóspedes ou visitantes – mas também mesmo a própria área de tesouraria e de fundo de maneio”, disse na passada quarta feira aos deputados.

Foi assim que o Ministro de Estado e da Economia Pedro Siza Vieira anunciou o reforço de uma das linhas mais importantes para o sector do Turismo, naquilo que diz respeito ao investimento.

Para mais informações, consulte a página de Apoios e Incentivos para os territórios de baixa densidade em Portugal.

"Saúde e harmonia também dão jeito"

Recebemos do António e da Ana esta mensagem que entendemos partilhar.
O António é um fotógrafo de excepção e a Ana escreve com uma suavidade que enternece.

Viviam em Espinho e migraram para uma aldeia de Bragança.
Conhecemos-los através de um blog - The Quality Times - que é um tónico para a alma!

"Temos um vício incurável: o de estar sempre à procura de novos caminhos para calcorrear, sempre com curiosidade para saber o que está para lá da próxima curva.
É esta a nossa resolução para 2020: explorar mais, descobrir lugares novos, quebrar a rotina, procurar um sentido nos dias, esforçar-nos cada vez mais para manter este belo planeta que temos.
São também estes os nossos votos para cada um de vós.

Saúde e harmonia também dão jeito. Esperamos que as tenham em abundância."

Charles Leadbeater defendia no seu livro "We think" que somos o que partilhamos.
E nós, promotores de uma ruralidade sustentável e inclusiva, gostamos de partilhar as coisas boas que chegam até nós.

Se tiver curiosidade, e através do link do blog, poderá conhecer o novo projecto turístico desta família chamado "Bétula Studios" (fotografia).

Votos de um natal junto dos seus, e se for numa aldeia, tanto melhor!

"Portugal Inovação Social está a mudar a forma como as instituições se relacionam"

Filipe Almeida nasceu em 1974, em Coimbra (Portugal) e é atualmente Presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, a entidade que assegura a coordenação e a gestão da iniciativa governamental Portugal Inovação Social criada com o objetivo de promover a inovação e o empreendedorismo social e dinamizar o mercado de investimento social em Portugal. Trata-se de um programa pioneiro na Europa e no mundo que mobiliza, para o cumprimento da sua missão, cerca de 150 milhões de euros de fundos da União Europeia.

Decorridos três anos de concursos para o financiamento de iniciativas de empreendedorismo e inovação social, que resultaram na aprovação e financiamento de mais de três centenas de projetos, esta iniciativa é responsável pela mobilização de centenas de entidades da economia social, empresas privadas e entidades da Administração Pública central e local que atuam em estreita colaboração, experimentam e desenvolvem soluções inovadoras para os problemas sociais do presente e do futuro.

Ruraltalks: A inovação social parece ser um dos eixos principais dessa transformação. Quem são os atores privilegiados para operar esta mudança de paradigma?
Filipe Almeida (FA): Vivemos um tempo de profunda transformação na forma como nos organizamos para responder aos problemas emergentes que enfrentamos. A inovação social sempre existiu, mas nas últimas décadas democratizou-se. A possibilidade de experimentar e desenvolver soluções inovadoras para responder a problemas sociais alargou-se a toda a sociedade civil. Como nunca no passado, temos hoje condições únicas que permitem a um número muito significativo de empreendedores e de organizações sociais prosseguir com eficácia o seu desígnio de melhorar o modo como vivemos. Mas nada se alcançará ou consolidará sem parcerias sólidas entre os setores público, privado e social. É nesse cruzamento que está o futuro. E portanto os atores privilegiados para operar a mudança de paradigma são as organizações e as pessoas que em cada um destes três setores entenderem a fundamental importância desta parceria a favor de uma compreensão mais profunda dos problemas coletivos, da experimentação de novas respostas sociais e de novas políticas.

Ruraltalks: Portugal Inovação Social: O que é?
FA: É uma iniciativa pública do governo português criada no âmbito do acordo de parceria com a Comissão Europeia designado “Portugal 2020”, que mobiliza, numa experiência pioneira na Europa, cerca de 150 milhões de euros do Fundo Social Europeu para promover a inovação social e o empreendedorismo social, dinamizando simultaneamente o investimento social e as parcerias entre investidores (públicos e privados) e organizações empreendedoras que propõem abordagens inovadoras para responder a problemas sociais. Tudo isto feito através de novos instrumentos de financiamento alinhados com as necessidades específicas deste setor emergente.

Ruraltalks: A União Europeia reconheceu em Portugal um ecossistema inovador para a implementação de programas piloto para a Inovação Social.
Em que consistiu esse reconhecimento?

FA: Temos atualmente em Portugal um dos ecossistemas de Inovação Social mais dinâmicos do mundo. Esse potencial foi reconhecido pela Comissão Europeia quando em 2014 aceitou reservar uma fatia dos Fundos Social Europeu para dinamizá-lo. E com este novo instrumento de política pública para o apoio ao empreendedorismo social foram criadas condições para experimentar novas respostas sociais para alguns dos mais exigentes desafios.

Ruraltalks: Este é um programa pioneiro na Europa e no mundo: Portugal é o único Estado-Membro com esta política experimental para promoção da Inovação Social.
Como sintetizaria a missão deste programa público pioneiro em Portugal?

FA: Além de dinamizar novas práticas de investimento, de dar voz à sociedade civil e de fomentar a inovação com valor social, eu diria que iniciativa Portugal Inovação Social visa promover parcerias intersetoriais a favor da experimentação das novas políticas públicas. É este um dos seus mais importantes desígnios.
Caberá ao sector público validar e dar escala a estas novas abordagens.

Ruraltalks: A iniciativa PIS tem em funcionamento 4 linhas de apoio. Qual a que obteve maior nr de candidaturas e porque motivo?
FA: Para cumprir a missão da Portugal Inovação Social, criámos 4 instrumentos de financiamento, com dois pressupostos fundamentais: Cada um deles está orientado para responder às necessidades específicas de uma determinada fase do ciclo de vida de um projeto de inovação social; Todos pressupõem o desenvolvimento de parcerias entre investidores e as organizações empreendedoras.

Os objetivos e modelos de financiamento são muito distintos entre eles e portanto o número de candidaturas e projetos aprovados também é muito variável. No instrumento Capacitação para o Investimento Social, que visa financiar o desenvolvimento de competências de gestão nas equipas envolvidas em projetos de inovação social, aprovámos 201 projetos. No instrumento Parcerias para o Impacto, que financia projetos em parceria com investidores públicos e privados, aprovámos até agora 128 projetos. Nos Títulos de Impacto Social, que visa a contratualização de resultados sociais alinhados com prioridades de política pública e o reembolso dos investidores mediante o atingimento desses resultados, aprovámos 8 projetos. E no Fundo para a Inovação Social, um inovador instrumento financeiro que visa facilitar o acesso a crédito e a atração de investimento em capital, estamos a analisar as primeiras candidaturas, esperando que as primeiras operações sejam realizadas até ao fim deste ano.

Ruraltalks: E quais os parceiros mais relevantes para dinamizar o ecossistema de inovação social?
FA: Os municípios tornaram-se um dos principais parceiros no processo de mapeamento e de financiamento da inovação social. São já 84 envolvidos como investidores no cofinanciamento de projetos inovadores. Têm também um papel decisivo algumas fundações de grande impacto, com destaque para a Fundação Calouste Gulbenkian que é o maior parceiro da Portugal Inovação Social. As empresas e os grupos económicos estão também cada vez mais atentos e interessados.

Com este programa, já fomentamos centenas de parcerias de investimento social e Portugal tornou-se um imenso laboratório experimental de novas respostas sociais. E os números que referi vão aumentar rapidamente.

Ruraltalks: Título de Impacto Social: Um modelo de financiamento que revoluciona forma tradicional de apoio à economia social.
O Estado concedeu benefícios fiscais aos investidores num apoio claro a esta iniciativa.
Quais os resultados alcançados?

FA: Os Títulos de Impacto Social são uma das mais inovadoras formas de experimentar novas respostas em áreas prioritárias de política pública, em parceria com o setor privado e social, com baixo risco para o Estado. São contratualizados resultados sociais mensuráveis que um ou vários investidores privados se comprometem a financiar integralmente. Se essas metas forem alcançadas, os investidores são integralmente reembolsados. Para atrair mais capital para este tipo de projeto, foi criado um novo benefício fiscal que permite majorar em 30% todo o investimento em Títulos de Impacto Social, independentemente do seu reembolso futuro. Temos já 8 Títulos de Impacto Social aprovados em áreas diferenciadas: emprego; proteção social; educação; saúde. E até agora, todos os resultados contratualizados foram alcançados, o que é um excelente indicador do êxito destas novas respostas públicas.

Ruraltalks: Acredita que as empresas portuguesas estão preparadas para se assumirem como investidores sociais?
FA: É evidente a mudança de paradigma na forma como as empresas se relacionam com a sociedade e com o Estado. Mas é um processo mais lento do que pode parecer. Ainda temos em Portugal uma cultura de filantropia dispersa e não estratégica. Apesar disso, vejo todos os dias aumentar o número de empresas – grandes, médias e até pequenas – que procuram orientar os seus recursos e competências para projetos com impacto social, coerentes com a sua estratégia de negócio e alinhados com prioridades de política. Parece-me um processo irreversível e estou confiante que daqui a poucos anos a generalidade da filantropia será estratégica e poderemos todos, como sociedade, beneficiar desse alinhamento empresarial com as prioridades sociais.

Ruraltalks: Como vê o futuro depois desta experiência pioneira em Portugal?
FA: A Portugal Inovação Social é uma oportunidade única que tivemos a sorte, como país, de conseguir aproveitar bem. Agora é necessário consolidar a cultura de inovação nas organizações sociais, as práticas estratégicas de investimento social no setor privado, as políticas de inovação social de base local e, principalmente, fomentar intensamente o desenvolvimento de novas políticas públicas com base em evidências. Tudo isto está ao nosso alcance. Como desde o início, este é um projeto de construção coletiva do futuro. E assim deverá permanecer.

Entrevistado por Frederico Lucas, no âmbito da Feira Espanhola  para o Repovoamento Rural PRESURA
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