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Work From Home - Switch Conference 2011

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Este país (não) é para velhos




Os grandes desafios demográficos da actualidade estiveram em análise numa conferência realizada a 6 de Abril na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Perante a constatação de que Portugal não renova as suas gerações há 28 anos, vários especialistas nas áreas económica e demográfica defenderam a adopção urgente de medidas capazes de contrariar o impacto negativo do envelhecimento na economia nacional. Portugal apresenta actualmente um défice de 1,2 milhões de crianças e jovens e, em crise, a quebra da natalidade só pode agravar-se.

A Saúde, a Segurança Social e o mercado de trabalho, concretamente ao nível da empregabilidade, são as três áreas mais afectadas pela evolução demográfica em Portugal nas últimas décadas, concluíram os especialistas, perante as dezenas de participantes na conferência “Economia, Demografia e Sustentabilidade”, organizada pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, em colaboração com o OJE. O economista Fernando Ribeiro Mendes, o ex-ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha e o presidente do ISEG, João Duque, forma alguns dos convidados a debaterem os efeitos do (des)incentivo à natalidade em Portugal, analisando as actuais políticas locais e nacionais, face ao progressivo envelhecimento da população. Um número redondo reforçou a importância desta reflexão, muitas vezes desvalorizada por não parecer visível no curto prazo: Portugal não pratica a renovação das suas gerações há 28 anos.

Primeiro filho cada vez mais adiado
As alterações na estrutura demográfica são hoje uma questão complexa que depende de várias dinâmicas, e não apenas das três variáveis básicas: fecundidade/natalidade; mortalidade e migrações. Para Cristina Sousa Gomes e Maria Luís Rocha Pinto, docentes na área de Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas da Universidade de Aveiro, apesar de se perspectivar um crescimento populacional nos países menos desenvolvidos, “o século XXI será de envelhecimento”. Para as duas especialistas em Demografia, “procurar evitar o declínio da população é uma questão eminentemente política”.

O maior impacto demográfico incide no género feminino, dizem, e Portugal não é excepção: as mulheres portuguesas têm vindo, progressivamente, a adiar o nascimento do primeiro filho e, de acordo com dados de 2011 do INE, a descendência média diminuiu no país de 2.99, em 1971, para 1.32 filhos por mulher, em 2009.

A partir de vários dados compilados pelo Eurostat (relativos aos 27 de UE), pelo Eurobarómetro e pelo INE, as demógrafas concluem que o emprego feminino em Portugal (20-64 anos) era superior (66.1%) ao da EU (62.5%); e que o emprego de mulheres (25-54 anos) com pelo menos um filho, no nosso país, (75.2%) ultrapassava também a média europeia (68.2%). Já o emprego feminino em part-time era inferior em Portugal (15.2%), face à UE (31.4%).

Numa análise por escalões etários, verifica-se que o emprego feminino aos 65-69 anos era, em 2009, mais elevado em Portugal (21.8% ) que na UE (7.4%); tal como aos 60-64 anos (33.8%, contra os 22.8% da UE); e aos 55-64 anos, escalão em que atingia, no nosso país, os 42.7.8%, enquanto a média europeia se situava nos 37.8%.

Note-se que o número médio de horas de trabalho semanal era também superior em Portugal (36 horas), relativamente à UE (33 horas). E que as mulheres portuguesas abandonam o mercado de trabalho, em média, mais tarde (62.3 anos) que as da UE (60.8 anos), tendo por base os dados de 2009.

Por outro lado, o apoio social a crianças até aos dois anos de idade era superior em Portugal (33%) em relação ao da EU (28%), mas esse mesmo apoio, quando atribuído a crianças desde os três anos até ao final da escolaridade obrigatória, era inferior em Portugal (78%) face à EU (83%).

Quanto a formação, o abandono feminino precoce do ensino (18-24 anos) era mais intenso em Portugal (26.1%) que na UE (12.5%); e a percentagem de mulheres, entre os trinta e os 34 anos, com nível de formação superior era significativamente menor em Portugal (24.8%) que na UE (35.7%).

Conciliar família e trabalho é essencial
Perante esta conjuntura pouco favorável, os principais motivos para os casais não desejarem ter mais filhos prendem-se com os entraves que as mulheres sentem em conseguir integrar o mercado de trabalho; com as dificuldades na conciliação família-trabalho; com os custos associados ao crescimento das crianças; e com as dificuldades relacionadas com a sua educação. Problemas de saúde, na gravidez, parto e cuidados infantis são outros factores mencionados.

É fácil perceber que à medida que a esperança de vida continua a aumentar, o envelhecimento tenderá a acentuar-se. Apesar de 2009 ter trazido “um ligeiro crescimento da fecundidade no contexto europeu, continua, globalmente longe de assegurar a substituição de gerações”, alertam as docentes da Universidade de Aveiro.

No nosso país, “as mudanças na sociedade foram rápidas e abruptas” e, em 2009, continuou a verificar-se o declínio da fecundidade, “com uma expressão diferenciada no território”.
Segundo Maria Rocha Pinto e Maria Cristina Gomes, “têm havido tentativas europeias no sentido harmonizar e incentivar as actuações dos Estados, junto da população”, mas a diversidade de realidades é acentuada, em função das políticas sociais de cada país.

Num contexto de crise que “pode criar alguma retracção” na evolução positiva da estrutura demográfica nacional, importa questionar até que ponto as medidas tomadas não são avulso e integram uma política de fundo e em que medida existe uma continuidade e articulação dessas políticas no campo social.

Considerando que a substituição de gerações está comprometida, as políticas locais a favor da natalidade são cada vez mais importantes. Mas “ainda não há noção do seu verdadeiro impacto porque tal não está estudado cientificamente”, acusam as demógrafas: “seria extremamente caro, mas era muito importante que Portugal tivesse um estudo científico sobre fecundidade, percebendo, por exemplo, o impacto das políticas já implementadas pelas autarquias, ao nível local. Mas até agora não foi possível perceber com clareza o impacto dessas medidas”, avançou Maria Rocha Pinto.

Em Portugal, e face à tendência que dita que as mulheres têm menos filhos do que os que desejariam – particularmente aquelas que não têm qualquer criança ou apenas uma -, “importa concretamente pensar na resposta aos anseios de fecundidade”. Importa ainda “compreender os padrões e tendências da fecundidade, de forma a adequar as políticas garantindo os seus efeitos, sobretudo “quando se atende às dificuldades e aos contrastes sociais que nos distanciam da média europeia”.

Portugal precisa de empreendedores
Defendendo políticas urgentes de incentivo à natalidade, o presidente do ISEG, considera que uma população envelhecida tem um perfil “menos empreendedor e menor propensão para o risco e para a inovação”. Embora contrária às necessidades do País, esta realidade requer que a sociedade se adapte, alterando as suas ofertas de consumo, por exemplo, no sector do turismo, sugere João Duque.
Por outro lado, a população mais idosa enfrenta maiores exigências ao nível da adaptação à tecnologia e “para os mais jovens haverá mais competitividade”, conclui o economista.

“Hoje estamos mais velhos e, sobretudo, mais sozinhos”, acrescenta Ribeiro Mendes, recordando os elevados índices de doença crónica e dependência que se registam no País.

Portugal construiu “direitos para o futuro que não podem ser garantidos” e tem hoje um modelo de segurança social “baseado na dívida”, que “não é sustentável: os direitos futuros dos pensionistas vão vencer algum dia e não haverá dinheiro para todos”, critica.

Sumarizando as diferentes funções que a segurança social conjuga – é “um mealheiro para poupança, é um seguro para eventualidades futuras e é um mecanismo de correcção de desigualdades”, o economista considerou que a correcção de desigualdades sociais, levada a cabo por “uma obsessão pela convergência com o salário mínimo” antes de ter sido criado o Indexante de Apoios Sociais, foi exagerada. Ribeiro Mendes defendeu mesmo que a idade mínima para a reforma poderia ser aumentada. Esta alteração, provavelmente dos actuais 65 anos para os 67 anos, deverá constituir uma das soluções para garantir a sustentabilidade do nosso sistema de segurança social, sustentou.

Sem uma “almofada colectiva para segurar o sistema de pensões”, as empresas devem reforçar o seu compromisso com a RS, dando mais benefícios sociais, disse ainda o professor universitário especialista em responsabilidade social das organizações: “temos de pedir mais compromissos às empresas em matéria de responsabilidade social”, paralelamente à participação pública, que deve ser mantida, e á responsabilidade individual, que tem de ser reforçada, defende Ribeiro Mendes.

Mas, num país que não renova as suas gerações há quase três décadas onde a população activa está necessária e progressivamente mais envelhecida, as empresas enfrentam dificuldades acrescidas “na aquisição de novos conhecimentos”, afirma, por sua vez, Luís Campos e Cunha. Para o ex-ministro das finanças, parte do défice público “está relacionado com o envelhecimento” e os reformados podiam ter um papel mais activo nas empresas. “O aumento da despesa pública na Saúde e na Segurança Social têm forte impacto nas Finanças Públicas”, recorda.

Sublinhando que os desafios da demografia se colocam a longo prazo, Campos e Cunha acredita que “a democracia está pouco preparada para lidar” com esta situação, já que “os Governos duram quatro anos, e as alterações demográficas podem demorar quarenta.” Ao contrário de antigamente, em que ao número de filhos correspondia força de trabalho na família, “hoje quer-se dar uma boa educação aos filhos e uma boa preparação para a vida”. Consequentemente, “as famílias com mais filhos são mais pobres, porque investem na educação dos filhos e estes são um encargo até aos vinte ou trinta anos”.

Jovens e idosos devem trabalhar juntos
Já para Pedro Pita Barros, professor de Economia e especialista em Economia da Saúde, “o envelhecimento não é o principal causador do aumento da despesa na Saúde”.

Na sua opinião, o principal desafio nesta área reside em encontrar respostas para as diferentes necessidades, que melhorem a utilização dos mecanismos actualmente existentes. Segundo Pita Barros, o envelhecimento explica apenas treze a quinze por cento do aumento da despesa pública com a saúde. O crescimento do rendimento médio dos portugueses nas últimas décadas e a imparável inovação tecnológica aplicada à área da medicina são os grandes drivers desse aumento da despesa. Esta teoria de Pita Barros assenta numa leitura correcta das estatísticas, que “têm servido para demonstrar que a despesa com saúde cresce a partir dos 65 anos, mas isso só acontece porque antes a esperança de vida terminava aos 65 anos e as despesas eram feitas antes dessa idade”, explica. Com o aumento da esperança de vida, “as despesas tendem a avolumar-se após essa idade, já que tradicionalmente se gasta mais nos últimos dois anos de vida”, o que significa que “apenas foram transferidas para mais tarde”.

Em todos os casos, “faltam ainda muitas respostas para um envelhecimento saudável, em que os cuidados sejam menos prestados pelos hospitais e mais pela sociedade”, adverte.
Mas não é só na saúde que é necessário reequacionar políticas. Em matéria de recursos humanos, e como sugere Rita Campos e Cunha, as empresas “têm de apostar em políticas que passam pela compatibilização entre trabalho e família, pela melhor integração entre colaboradores jovens e velhos, para transmissão de conhecimentos, e pela motivação dos mais novos, que vêem as suas expectativas de carreira afectadas pela presença dos colaboradores mais velhos até mais tarde”. Para a professora de Gestão de Recursos Humanos, é também necessário “reformular as políticas de Reforma, evitando a estagnação dos mais velhos”.

Concretamente para esta faixa etária, Rita Campos e Cunha sustenta a introdução de novos métodos de formação, de competências e de mecanismos de avaliação do desempenho nas empresas e propõe a criação de pacotes de benefícios sociais para os colaboradores mais velhos, a par da atribuição de funções menos stressantes, da flexibilização do horário de trabalho e da contratação de reformados. Para os colaboradores jovens, a especialista defende que parte do seu trabalho pode ser realizado em regime de teletrabalho ou em part-time, com horários flexíveis. Os jovens devem ter a possibilidade de coordenar as suas tarefas com as férias escolares e têm direito a baixas de parto mais flexíveis, defende ainda.

Os imigrantes são outro grupo para o qual devem ser melhoradas as políticas de apoio ao emprego, já que representam um segmento “que continuará a compensar o decréscimo natural de portugueses”, acredita Rita Campos e Cunha: a esse nível, “serão necessárias políticas de gestão da diversidade, que passam pela não discriminação salarial, pelo acesso a um emprego ajustado às competências do colaborador, por uma cultura de aceitação das diferenças e pelo apoio à integração cultural e educacional dos filhos dos colaboradores”, conclui.

A curto prazo, as empresas terão trabalhadores mais velhos e um segmento
menor de jovens adultos, enquanto a médio prazo, sofrerão mesmo “com a perda de
competências críticas e com a escassez de talento”, defende a também psicóloga. Neste contexto, a “escassez do talento mais jovem irá sentir-se” no mercado empresarial, conclui Rita Campos e Cunha.

Uma tendência que só pode ser invertida aumentando a descendência média em Portugal que, como foi referido, se cifra em apenas 1,32 filhos por mulher, em 2009. Mas desenvolver políticas de natalidade requer uma melhor conciliação entre emprego e família e a criação de incentivos para as famílias, muito concretamente na área da educação. Ou seja, implica percorrer um caminho que Portugal precisa de atravessar urgentemente mas que, em conjuntura de crise económica e social aguda, não deverá iniciar tão cedo. Comprometendo ainda mais a substituição das gerações no País.

in Portal VER

Sortelha

Por muralhas de terras que já foram municípios

O concelho do Sabugal ocupou posição de relevo na defesa das fronteiras do reino. No seu território há vários castelos em terras que já foram sede de concelho. Sortelha, Vila do Touro, Vilar Maior e Alfaiates são esses exemplos

SORTELHA, Vila do Touro, Vilar Maior e Alfaiates fazem hoje parte do vasto concelho do Sabugal. Em comum partilham uma história: todas elas foram sede de municípios. Mas há algo mais que as une num vasto abraço à história: o seu papel na defesa do reino, estando na primeira linha de embate em tempos em que as fronteiras eram instáveis em ténues geografias de receios avulsos, num território que se foi conquistando e defendendo légua a légua. E raramente sem o sacrifício das povoações da raia.

O concelho do Sabugal tem uma riquíssima história e património construído, elevando-se na raia como um dos esteios da defesa de Portugal. Raros concelhos ostentarão tantos castelos e ruínas de um tempo onde se lutou na consolidação de um país. A defesa começava aqui, por estes lugares com vista sobre terras a perder de vista, sob olhar austero destes guardiões de pedra erguidos nas alturas da raia beirã. Sortelha. Segunda-feira. Nesta tarde chuvosa, apenas um casal de turistas quebrava o silêncio. De máquina em punho, recolhia apontamentos fotográficos para memória futura. Sortelha deslumbra. E eles, os turistas, estão a ter conhecimento disso, em passo demorado e, por vezes, surpreendido. O tempo pretérito acomodou-se por aqui, neste regaço de pedra forte e sublime. Sortelha deslumbra porque guarda em si o seu tempo quase intacto. Tem uma áurea que nenhuma máquina fotográfica consegue captar. Tem o tempo que passou a passar por estas ruas.

Dentro das muralhas da aldeia vivem apenas três pessoas, "e todas de famílias diferentes", dizem-nos. Fora delas, as contas são outras, são feitas com algumas centenas de habitantes, mas não demasiadas. Esta é a mesma raia que, hoje, é das primeiras a sofrer com o desenfreado despovoamento do interior, com a saída dos seus para as cidades do litoral ou para o estrangeiro, tal como há séculos era a primeira a sofrer o embate das invasões. E não há castelo, nem muralha que sustenha estas fugas alavancadas no sonho e na necessidade.

A história de Sortelha remete-nos para o ano de 1181, para o reinado de D. Sancho I, com os primeiros esforços de repovoamento do lugar. Mas será com D. Sancho II que se dará a reforma administrativa e militar do território. Será este monarca que ordenará a construção do primeiro castelo e atribuirá o foral a Sortelha, em 1228. Ao longo dos séculos, esta aldeia contribuiu para a sedimentação da reconquista cristã dos séculos XII e XIII e para as disputas territoriais fronteiriças com os reinos de Leão e Castela na região de Riba- Côa. Nos reinados de D. Dinis, D. Fernando e de D. Manuel I, o castelo foi alvo de intervenções reconstrutivas. Já depois da restauração da independência, em 1640, uma nova rede defensiva é implementada em alguns pontos do país, baseada numa fortificação abaluartada, onde o tecido defensivo de Sortelha sofreu uma adaptação parcial das torres e muralhas às novas técnicas militares.

Sortelha guardou até 1885 o estatuto de sede de concelho. Hoje, a sua importância mede-se pelo turismo. É uma das estrelas da rede das Aldeias Históricas. Do alto dos seus 700 metros, a vista ainda alcança a ribeira do Casteleiro, a Serra da Malcata, a Cova da Beira e a Serra da Estrela. Mas dali já não vêm receios de invasões nem marchas de exércitos invasores. Só turistas, que entram por esta porta da muralha que lhes está constantemente franqueada. Hoje, todas as invasões são bem-vindas.

São essas boas-vindas que nos foram dadas em local propício: "As Boas Vindas Bar", onde Ana Maria nos recebe. Para além de turistas nacionais, a aldeia recebe hoje "muitos espanhóis e ingleses", principalmente nos períodos festivos e aos fins-de-semana. Ana Maria está a tomar conta deste bar, que é propriedade do irmão. Vive em Sortelha, mas "fora das muralhas". Todos os dias abre estas portas. Nesta velha Sortelha, vive-se "essencialmente do turismo e da agricultura", diz-nos. A aldeia já não nos defende, mas mantém intocável todo um charme que acumulou século após século, próprio de quem soube envelhecer.

A cidade do Sabugal está a 14 quilómetros. A sede de concelho é dona de um castelo imponente. Sabugal tornou-se sede de concelho em 1190, ganhando já no reinado de D. Dinis importância regional, coroando-se o castelo com uma imponente torre de menagem com as suas cinco quinas.

Segundo Rita Costa Gomes, em "Castelos da Raia - I Beira", a importância da localidade "estava muito ligada, na época medieval, à travessia do Côa por uma ponte de pedra". Deste castelo assente em local estratégico assistiu-se à entrada e saída de exércitos inimigos em Portugal, a convulsões militares que resultaram na destruição de monumentos e casario. Em torno do castelo a toponímia das ruas remete-nos para referências históricas incontornáveis: "Rua de Aljubarrota", "Rua Pedro Álvares Cabral" ou "Largo de Alcanizes". Este largo tem uma ligação estreita ao castelo que lhe está em frente. O tratado de Alcanizes foi assinado entre D. Dinis e o soberano de Leão e Castela, Fernando IV, em 1297. Neste compromisso delimitaram-se as fronteiras entre os dois reinos e em troca de direitos portugueses em domínios nos "Reinos de Leão e de Galiza", era reconhecida a Portugal a posse das chamadas terras de Riba-Côa, que compreendiam várias povoações e castelos, entre as quais, Sabugal. A dez quilómetros encontramos outra aldeia que outrora foi sede de concelho: Vila do Touro. Do velho castelo nada se vislumbra à entrada da aldeia, pelo que seguir pela rua dos Templários parece ser o melhor trilho para o passado. Chegaremos, por fim, junto à porta de arco em ogiva das muralhas. Este é dos poucos testemunhos existentes da sua antiga malha defensiva. Passando por este arco, subimos até nos darmos conta do porquê da importância geográfica de Vila do Touro na defesa das fronteiras: uma imensa vista sobre o horizonte, sobre uma vastidão de terras que tocavam as fronteiras com Castela e Leão, para geografias a perder de vista, onde o avançar de um exército jamais poderia passar desapercebido. Uma vista de surpresa e espanto, desde as ruínas da muralha de uma pequena localidade que foi sede de concelho até 1836. Atrás de nós, alargando-se para fora destas ruínas, uma povoação fundada no século XII, durante a Reconquista, tendo-lhe sido atribuído foral em 1220, durante o reinado de D. Afonso II. Mas agora, o tempo é de regresso; afastar-nos deste horizonte, de onde já se dissiparam as ameaças, receios e angústias. Hoje, as lutas são outras.


in Jornal do Fundão, por Nuno Francisco

Cidades e Regiões Inteligentes

As conclusões associadas à implementação do Projecto "Cidades e Regiões Digitais", que decorreu um pouco por todo o país, envolvendo "redes integradas de cooperação territorial" (Municípios, Universidades, Centros I&D, Empresas, Sociedade Civil), são a melhor demonstração de que em 2011, apesar de todas as políticas públicas e estratégias tendo em vista a modernização do território português, o país teima em não conseguir assumir uma dinâmica de "salto em frente" para o futuro tendo por base os factores dinâmicos da inovação e competitividade.

Numa Europa das Cidades e Regiões, onde a aposta na inovação e conhecimento se configura como a grande plataforma de aumento da competitividade à escala global, os números sobre a coesão territorial e social traduzem uma evolução completamente distinta do paradigma desejado.

Jaime Quesado A excessiva concentração de activos empresariais e de talentos nas grandes metrópoles, como é o caso da Grande Lisboa, uma aterradora desertificação das zonas mais interiores, na maioria dos casos divergentes nos indicadores acumulados de capital social básico, suscitam muitas questões quanto à verdadeira dimensão estruturante de muitas das apostas feitas em matéria de investimentos destinados a corrigir esta "dualidade" de desenvolvimento do país ao longo dos últimos anos.

Apesar da relativa reduzida dimensão do país, não restam dúvidas de que a aposta numa política integrada e sistemática de Cidades Médias, tendo por base o paradigma da inovação e do conhecimento, com conciliação operativa entre a fixação de estruturas empresariais criadoras de riqueza e talentos humanos indutores de criatividade, é o único caminho possível para controlar este fenómeno da Metropolização da capital que parece não ter fim.

O papel das Universidades e Institutos Politécnicos que nos últimos 20 anos foram responsáveis pela animação de uma importante parte das cidades do interior, com o aumento da população permanente e a aposta em novos factores de afirmação local, está esgotado.

Desta forma, o compromisso entre aposta, através da Ciência, Inovação e Tecnologia, em Competitividade Estruturante na Criação de Valor Empresarial, e atenção especial à Coesão Social, do ponto de vista de equidade e justiça, é o grande desafio a não perder. A Sociedade do Conhecimento tem nesta matéria um papel muito especial a desempenhar e numa época onde se assiste à crescente Metropolização do país em torno do Porto e Lisboa, a aposta em projectos de coesão territorial como as "Cidades e Regiões Digitais" pode fazer a diferença, com a sua distinção na mobilização das pessoas para um verdadeiro Novo Contrato Social, focado na qualidade de vida e aposta no valor estratégico.

in TeK Sapo, por Francisco Jaime Quesado, Especialista em Estratégia, Inovação e Conhecimento

Nascem as cidades inteligentes



No Brasil, ainda estamos na fase de lutar contra o trânsito, as enchentes e os apagões. Mas vários países já começam a materializar as chamadas cidades inteligentes

Enquanto no Brasil a população e as autoridades se debatem com desafios como tentar diminuir as horas que são perdidas no trânsito ou como evitar as tragédias causadas pelas chuvas, um grupo de cidades no mundo alcançou um patamar bem mais elevado de discussão. São lugares que estão sendo erguidos do zero ou metrópoles que já implantaram soluções urbanísticas que hoje são referência no tema cidades do futuro.

Numa delas, em Songdo, na Coreia do Sul, será possível “ir” ao médico ou à escola sem sair de casa. Em King Abdullah, na Arábia Saudita, todos os serviços públicos funcionarão 24 horas por dia e qualquer processo não levará mais do que 60 minutos para ser resolvido.

A cidade-estado de Singapura é literalmente ilhada diante de uma das maiores densidades demográficas do mundo. Mas evoluiu tanto nas soluções para seus dilemas — como eliminar os congestionamentos ou se tornar autossuficiente em água potável — que hoje seu governo virou uma espécie de consultor para outras cidades no mundo que querem ser mais inteligentes.

Esses projetos urbanísticos inovadores são alguns dos exemplos que surgiram nos últimos anos para uma adequação ao fato de que a maioria das pessoas vai se aglomerar cada vez mais em cidades. “Os velhos modelos urbanos não são mais sustentáveis”, diz Ryan Chin, pesquisador do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. “As cidades inteligentes e os novos modelos que elas estabelecem devem nortear o crescimento nos próximos anos.”

As cidades inteligentes são comunidades que lançam mão do que há de mais moderno em recursos tecnológicos e arquitetônicos como resposta aos desafios impostos pelo adensamento populacional. A ideia é criar ambientes sustentáveis, eficientes, com alto grau de conectividade e, consequentemente, com excelentes níveis de qualidade de vida.

Em um curto espaço de tempo, o conceito de cidades inteligentes extrapolou os meios acadêmicos e o plano da utopia para virar uma nova e lucrativa indústria. De escritórios de design, arquitetura e urbanismo a grandes corporações dos setores de tecnologia e serviços, muitas empresas já possuem unidades de negócios exclusivamente destinadas a pensar nesse tipo de solução. Siemens, IBM, GE, Cisco, entre outras, são algumas das multinacionais que oferecem um volume crescente de projetos, produtos e serviços.

Estima-se que o mercado de soluções inteligentes para cidades já seja de cerca de 1,2 trilhão de dólares. De acordo com um estudo recente da consultoria de gestão Booz&Co., as cidades no mundo devem investir cerca de 37 trilhões de dólares nos próximos 25 anos para modernizar e expandir a infraestrutura.

Não faltam investidores e governos dispostos a aplicar dinheiro no setor. Na Coreia do Sul, já está parcialmente pronta o que será sua cidade mais inteligente, Songdo. O projeto, avaliado em mais de 35 bilhões de dólares, tem conclusão prevista para 2014. A empreiteira americana Gale se comprometeu a construir toda a cidade em troca dos direitos de exploração dos imóveis.
Coube à Cisco, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, desenvolver as soluções inteligentes que facilitarão a vida dos futuros moradores de Songdo. As redes de telefonia e internet são de última geração e permitirão conexões a velocidades inimagináveis para os padrões brasileiros.

O grande destaque fica por conta de um inovador sistema de telepresença — disponível em todos os apartamentos e salas comerciais — que permite que os moradores façam consultas médicas, assistam a aulas ou participem de reuniões de trabalho sem sair de casa e, portanto, sem pressionar o trânsito ou os sistemas de transporte. “O avanço tecnológico leva a um salto incrível na qualidade de vida”, afirma Paulo Abreu, diretor de inovação da Cisco para a América Latina.

Uma das principais características das cidades inteligentes é a sustentabilidade. Entre os exemplos nesse quesito está a ambiciosa Masdar, em Abu Dabi, nos Emirados Árabes. A cidade deve ser a primeira 100% livre de emissões de dióxido de carbono. Com uma área de 6 quilômetros quadrados e uma população prevista de 40 000 habitantes, Masdar quer ser um laboratório para experimentos com o uso racional da energia.

No início de março, o premiê espanhol José Luis Zapatero esteve na cidade para observar os progressos já alcançados. Os governos dos Emirados Árabes e da Espanha firmaram acordos de cooperação no setor de energia. “Masdar é um dos principais centros mundiais de pesquisa em energias renováveis”, disse Zapatero.

Nem tudo sobre cidades inteligentes se refere a territórios tão futurísticos. As aglomerações urbanas são como organismos vivos e desenvolvem novas necessidades constantemente. O que hoje se convenciona incluir no campo das cidades inteligentes são formas de pensar a vida urbana e o uso das tecnologias que, em alguma medida, sempre estiveram entre as preocupações dos especialistas em urbanismo.

O verdadeiro — e mais importante — desafio é transformar as metrópoles tradicionais em ambientes mais inteligentes. “É muito mais difícil implantar um sistema complexo como o de Songdo ou Masdar numa cidade como São Paulo. Mas a tecnologia pode servir de base para projetos menos sofisticados”, diz Paulo Abreu, da Cisco. Realmente, ainda estamos em outro patamar. Mas não custa começar — já — a mirar o que há de mais inovador. Afinal, mais dia, menos dia, esse futuro terá de chegar também por aqui.

in Exame.com

Portugal integra lista dos melhores destinos mundiais para Outsourcing




A Gartner, uma das principais consultoras mundiais na área das tecnologias de informação, colocou Portugal na lista dos 11 países desenvolvidos a serem ponderados para a realização de outsourcing de tecnologias de informação e processos, logo após uma lista de 30 países dominada pelos mercados emergentes.

Portugal integra, pela primeira vez, a lista dos melhores destinos mundiais para a realização de Outsourcing de tecnologias de informação e processos da consultora Gartner. Esta inclusão surge após as várias acções de promoção do sector desenvolvida pela Associação Portugal Outsourcing, inclusive nos mercados internacionais.



Frederico Moreira Rato, presidente da Portugal Outsourcing salienta que “a entrada do nosso País neste importante ranking da Gartner vem reforçar a nossa visão de que Portugal tem potencial para desenvolver uma nova indústria de serviços exportadora de ponta baseada no Outsourcing de tecnologias de informação e processos. Mas também temos consciência que para entrar no pelotão da frente é necessário uma aposta da Administração Pública nos benefícios que o sector pode oferecer, bem como ultrapassar alguns constrangimentos à actividade, nomeadamente na área laboral e fiscal”.



O ranking da consultora Gartner coloca Portugal entre os 11 países desenvolvidos com mais potencial para operações de offshore (outsourcing para destinos longínquos) e nearshore (outsourcing para mercados de proximidade), logo a seguir a uma lista de 30 países dominados por estados de mercados emergentes.



Na Europa, Portugal é colocado a par de países como a Irlanda, Israel, Irlanda do Norte, Escócia, Espanha e País de Gales. Segunda a Gartner, este conjunto de países tem um ambiente doméstico maduro, com mão-de-obra qualificada nas tecnologias de informação e processos de negócio, infra-estruturas tecnológicas robustas, legislação madura e muitas vezes contam com investimentos significativos de multinacionais prestadoras de serviços. Contudo, estes países frequentemente têm uma performance desfavorável em termos de custos face a mercados emergentes.



Um estudo recente promovido pela Portugal Outsourcing salienta que a competitividade de Portugal como destino de projectos e centros de competências a nível internacional tem vindo a aumentar, o que já se traduziu na captação de importantes projectos e infra-estruturas para Portugal.



O trabalho denominado “Portugal como Destino Internacional de Outsourcing” defende a importância da adopção do outsourcing no Sector Público e a urgência da criação de medidas específicas para o sector, de forma a explorar o potencial demonstrado pelo País e a reforçar a sua competitividade no contexto europeu.



As empresas associadas da Portugal Outsourcing querem captar para o País projectos internacionais que permitam aumentar as exportações de serviços de tecnologia e processos nacionais, tendo como objectivo que o sector venha a alcançar mais de 1.300 milhões de euros em exportações em 2015.



A Portugal Outsourcing estima que o outsourcing de TI e processos em Portugal venha a representar 1,3% do PIB em seis anos, originando ganhos de produtividade anuais para a economia nacional que poderão ser superiores a 1.500 milhões de euros. As empresas associadas acreditam que o seu sector pode criar 12 mil novos empregos líquidos em Portugal nos próximos anos, com importante parte dessa evolução a ser gerada pelo mercado internacional e pela Administração Pública.



O roadshow promovido pela Portugal Outsourcing incluiu, em 2010, uma acção de apresentação em Londres que contou com especialistas nacionais e internacionais, estando previstas mais acções em cidades europeias em 2011. Entre os oradores na apresentação em Londres estiveram António Nogueira Leite, antigo Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, bem como Frederico Moreira Rato, Presidente da Associação Portugal Outsourcing.



A Portugal Outsourcing tem como associados as empresas Accenture, Altran, Capgemini, Deloitte, Everis, Glintt, HP, IBM, Indra, Logica, Mainroad, Novabase, Oni, Portugal Telecom, Reditus, Sibs Processos, Siemens e Xerox. O sector do outsourcing com recurso às tecnologias de informação e comunicação gera mais de 1.000 milhões de euros por ano para a economia nacional, o que representa cerca de 0,66% do PIB.

in Portugal Global

Falta qualificação na onda do desenvolvimento




As cidades do interior paulista, por exemplo, representam com maestria essa rara fatia, atraindo riquezas pelas mãos da fórmula serviços de ponta x tranqüilidade e segurança. Naturalmente, toda essa bonança acaba por alavancar a indústria imobiliária local e, um dos grandes desafios apresentados por esse contexto positivo para o setor é justamente manter o crescimento populacional com garantias consideráveis de emprego e renda.

Hoje, o interior paulista é um País, com PIB superando a casa dos US$ 135 bilhões - 12% maior que o PIB chileno, por exemplo -, respondendo por 44% de todas as riquezas produzidas no Estado de São Paulo e 13% do Brasil. Só nos primeiros cinco meses do ano passado, a região gerou quase 360 mil novos postos de trabalho, número que corresponde a 75% de todos os novos empregos do Estado.

Embora São Paulo concentre mais de 60% das cidades médias que crescem por meio de atividades educacionais (o Estado é responsável por um quarto de toda a produção científica nacional, abrigando importantes instituições de ensino superior brasileiras), sua indústria imobiliária não está livre de um flagelo comum: a falta de profissionais qualificados.

Em décadas anteriores, imperavam no mercado a baixa produtividade, o pouco cuidado com a segurança, o uso de equipamentos rudimentares e a mão de obra pouco qualificada. Hoje, o sucesso de um produto depende da qualidade de todos os elos da construção civil. Para isso, a mão de obra passou a ser mais qualificada e novas regras surgiram para controlar os procedimentos.

Estamos no auge de um período produtivo, mas, como manter esse cenário, sem considerarmos a importância crescente da formação profissional? A verdade é que o forte momento da construção civil contrasta com a pequena quantidade de profissionais qualificados. Tanto mais quando assistimos à decolagem do programa Minha Casa, Minha Vida, que aumentou sensivelmente a quantidade de projetos, à consolidação das políticas de crédito imobiliário, ao advento do pré-sal, que movimenta sobremaneira a Baixada Santista, ou mesmo a toda a demanda, em breve, gerada pela Copa do Mundo e pelas Olimpíadas.

Todos sabem que a indústria imobiliária nacional já é uma das principais responsáveis pela geração recorde de empregos com carteira assinada (vide estudos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged – do Ministério do Trabalho). Mas, quando o empresário do setor implementa uma grande obra, que requer investimento elevado, cada vez menos encontra qualidade no momento da contratação.

Para reforçar a tese, recente levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que o custo da produção aumentou muito em função dos altos salários exigidos pelos poucos e bons profissionais. Apesar de tudo, em 2010 a maioria das empresas imobiliárias do Estado trabalhou em ritmo acelerado e com número de empregados crescente. E assim deve ser também ao longo de 2011.

Essa realidade também é detectada em cidades como Sorocaba, Campinas, Jundiaí, Taubaté e São José dos Campos, que, dentre outras, apesar dessa dificuldade avançam nos investimentos, não só no âmbito empresarial, mas também no sentido de reunir esforços e instituir parcerias com entidades afins, rumo à promoção do aperfeiçoamento e formação profissional.

O processo de capacitação é essencial e deve ocorrer o mais rápido possível. Com a rotatividade de profissionais no setor, as empresas deverão cultivar uma visão autocrítica sobre o clima organizacional e criar uma relação de confiabilidade, inclusive a partir das experiências e vivências de cada um.

A escassez de mão de obra é um contexto que deve perdurar por algum tempo ainda, já que a formação de profissionais requer investimento de mais longo prazo. É preciso reinventar a empresa, quando a realidade muda, e avançar com mais afinco no setor da educação, para não desperdiçarmos esse momento de ouro.

in INCorporativa, Flávio Amary, vice-presidente do Interior do Secovi-SP

Desemprego jovem atingiu em 2009 máximo histórico

A taxa mundial de desemprego jovem atingiu em 2009 o nível mais alto de sempre 13% e deverá aumentar este ano, revela um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A taxa mundial de desemprego jovem atingiu em 2009 o nível mais alto da história - 13%, correspondentes a 81 milhões de pessoas - e deverá ainda aumentar este ano, segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A divulgar no âmbito do lançamento do Ano Internacional da Juventude das Nações Unidas, o trabalho refere que, no final de 2009, 81 dos 620 milhões de jovens economicamente ativos entre os 15 e os 24 anos estavam desempregados.

Face a 2007, houve um aumento de 7,8 milhões de jovens desempregados (1,1 milhões em 2007/2008 e 6,7 milhões em 2008/2009), com a taxa de desemprego neste segmento a subir de 11,9 para 13% entre 2007 e 2009.

Comparativamente, nos 10 anos que antecederam a crise económica (de 1996/97 A 200/07) o ritmo de crescimento anual dos jovens desempregados ficou-se pelos cerca de 191 mil.

Em termos percentuais, o aumento de um ponto percentual registado entre 2008 e 2009 na taxa de desemprego jovem representa a maior variação anual dos últimos 20 anos e reverteu a tendência anterior à crise que apontava para uma diminuição das taxas de desemprego jovem desde 2002.

Segundo as principais conclusões do estudo, entre 2008 e 2009 o número de jovens desempregados aumentou 9%, o que compara com um aumento de 14,6% no número de adultos desempregados, mas em termos de taxa de desemprego o impacto sobre os jovens foi maior, subindo um ponto percentual contra 0,5 pontos nos adultos durante 2008/09.

De acordo com a OIT, em 2008 os jovens representavam 24% dos trabalhadores pobres no mundo e 18,1% do total de desempregados a nível mundial.
Mulheres são mais atingidas

Do trabalho resulta ainda que as mulheres jovens têm maiores dificuldades que os homens em encontrar emprego: em 2009 a taxa de desemprego juvenil feminina foi de 13,2%, contra 12,9% nos homens.

As projeções da OIT apontam para uma recuperação do emprego mais lenta para os jovens do que para os adultos, antecipando-se um aumento contínuo do desemprego juvenil mundial este ano até ao nível histórico de 81,2 milhões e uma taxa de 13,1%. Só durante o ano seguinte o número de jovens desempregados deverá cair para 78,5 milhões e uma taxa de 12,7%.

Já a taxa de desemprego entre os adultos terá já alcançado o seu nível máximo em 2009 (4,9%), devendo recuar 0,1 pontos percentuais quer em 2010, quer em 2011.

Intitulado "Tendências Mundiais do Emprego Jovem 2010", o relatório da OIT apresenta as tendências do emprego de jovens entre os 15 e os 24 anos a nível mundial e regional, com especial enfoque para o impacto da crise económica sobre este grupo.

in Expresso

Reflexões Urbanas



Ouves o despertador no telemóvel que colocas na mesinha de cabeceira. É cedo para ti e para o amanhecer, que ainda está a alguns minutos de distância. Não te custa sair da cama, mais do que te tem custado há 20 ou 25 anos. Os chinelos mudam, o soalho muda, o caminho para a casa de banho muda, até o número de pessoas em casa muda. Só a luta continua a mesma. Estás mais pesado, mais caído. Não tens o assobio de outrora. Preparas os miúdos, fazes mais de cem tarefas em pouco mais de sessenta minutos e já nem dás por isso. Respondes maquinalmente às perguntas dos teus filhos, que ainda não sabem ver as horas. Pensas meia dúzia de segundos no saldo que terás na conta bancária. Nos dias que faltam para o final do mês. Nas despesas. Toca a campainha do micro-ondas. Mais uns segundos a fazeres contas de cabeça sobre o tempo que tens, o caminho que tomarás, o trânsito e quanto levarás a chegar ao emprego. Quase ao mesmo tempo a torradeira cospe uma fatia de pão. Acabou-se o luxo de perder segundos a pensar. A partir daqui é tudo um reboliço. Devias levantar-te 15 minutos mais cedo. Há anos que sabes que devias. Mas não levantas. É a tua última peça de resistência. Ninguém te tira esses 15 minutos de sono, até porque já não tens mais nada. Sais de casa na correria habitual, a apressar os miúdos. Tudo em direção ao elevador. Pressionas o botão que um deles já pressionou. Levas os bolsos cheios: telemóvel, chave do carro, chave de casa, carteira e um sem número de extras que muda todos os dias e que não houve tempo de empurrar para dentro da mala – empurras depois, quando estiveres a sair do carro para subir para a empresa. Passas pela escola, deixas os miúdos. Beijas testas a correr, dás abraços de robot e à saída voltas a saudar os auxiliares (que no teu tempo se chamavam contínuos) com o mesmo entusiasmo da mensagem pré-gravada que as operadoras de telemóvel têm a avisar que quem tentaste contactar está de momento indisponível. Enfias-te nas entranhas do carro outra vez. Os rins já acusam cansaço e ainda agora é de manhã. Arrancas. Ligas o rádio e ouves as notícias do dia, que podiam muito bem ser as do dia anterior que nem davas por nada. Ouves a informação de trânsito e ficas a saber onde ele está pior quando já te encontras a entrar na fila que serpenteia a estrada que fazes todos os dias. Não podes ir mais depressa. É aí que abrandas e percebes que não devias ter respondido maquinalmente aos miúdos, que os devias ter beijado melhor e abraçado como se fosse a última vez, pois não sabes quando foi a última vez que realmente o fizeste assim. Sentes uma impressão no estômago. Chama-se saudade e já só te é permitido tê-la enquanto estás numa fila de trânsito. Uma horas depois estás a subir para o escritório. Chegaste à linha da frente e dela sairás ao fim da tarde – depois de teres feito mais de cem tarefas em pouco mais de cada sessenta minutos ali passados. Com a mesma correria voltas ao carro e nem na fila para casa te passa pela cabeça que há anos que estás a cair como um soldado desconhecido. Ainda te sobram munições? Usa-as para festejar a deserção. Acorda amanhã sem despertador, 15 minutos mais tarde, com a luz do dia a beijar-te o rosto, abraça a miudagem a valer. Pega no carro e neles e faz o caminho contrário à fila, aquele que está quase vazio. Conduz muito nesse sentido. Muito. Muito. Depois disso, assobia. 11/03/2011 - 11h07 - Fundação Champalimaud, “Champalimaud Centre for the Unknown”, Av. Brasília, Lisboa.

in projecto Moboide (Mobile Polaroid), Miguel Martins

PlanIT Valley quer ser a montra do urbanismo sustentável



Numa área de 17 quilómetros quadrados no concelho de Paredes está a ser pensada a cidade do futuro, com respostas aos actuais desafios da vida urbana. Soluções que poderão ser exportadas se o projecto, extremamente ambicioso, se concretizar. Por Luísa Pinto

As revistas internacionais chamam-lhe cidade do futuro. Mas o que os promotores do PlanIT Valley, um projecto anunciado para Paredes, estão a tentar fazer é construir de raiz uma cidade para 225 mil pessoas com uma pegada ecológica próxima do zero, que integre as soluções para muitos dos problemas urbanos do presente. Mais de metade da população mundial vive actualmente em cidades, e a sustentabilidade do planeta depende, e muito, das respostas aos desafios associados à sustentabilidade ambiental. O que a Living PlanIT, uma empresa liderada por um ex-executivo da Microsoft, Steve Lewis, se propõe desenvolver é uma espécie de cidade-laboratório onde se desenvolvam e testem soluções. Uma cidade-catálogo, montra de tecnologias, bens e serviços exportáveis para o mundo.

A concretizarem-se os anúncios que têm vindo a ser feitos pela Living PlanIT, será a vinte quilómetros do Porto que vai aparecer um laboratório vivo onde novas soluções tecnológicas irão ser desenvolvidas e testadas, ao nível da construção de edifícios, da mobilidade, da produção e gestão da energia, do tratamento e reaproveitamento de resíduos... tudo controlado por uma gigantesca rede de sensores (fala-se em cem milhões) que permitem, além disso, monitorizar a qualidade de vida dos habitantes, e trazer interactividade à vida.A relação do habitante com esta cidade não seria muito diferente daquela que, individualmente, cada cidadão pode ter com o seu smartphone. O que se fala para Paredes é isso, uma smart city. Uma cidade inteligente que, segundo Celso Ferreira, o presidente da Câmara de Paredes, que abriu os braços a este projecto, não poderia ser desenvolvido em nenhuma metrópole já consolidada. "Nenhum condomínio iria permitir, de repente, a instalação de sensores... e aqui estamos a falar à escala de quarteirões e de cidade. Aqui estamos a começar do zero, e só vem para cá quem aceita estes princípios que, obviamente, não deixarão de respeitar todas as questões legais", explica o autarca.

Trata-se, pois, de construir uma cidade de raiz, com Celso Ferreira a garantir o cumprimento dos critérios de ordenamento do território nacional. "Não vamos repetir, em Paredes, os erros que foram feitos no passado, um pouco por todo o país", assegura. O responsável do projecto, Steve Lewis, garante também ter a preocupação de construir em Portugal algo que não seja "desgarrado da realidade e da cultura portuguesa". Por isso, assegura, chamou o gabinete de arquitectura Balonas e Menano a desenhar o plano de implantação da cidade. "Um gabinete de topo, com soluções inovadoras e criativas", assevera Lewis.

Pedro Balonas agradece a oportunidade de estar "a integrar uma rede de conhecimento". "Temos estado em contacto com um impressionante número de empresas, e a trabalhar em soluções que nos atiram para os lugares de topo, a nível mundial", afirma, entusiasmado, o arquitecto. A Balonas e Menano é parceira e investidora: é o gabinete de arquitectura que está a suportar os custos de investigação nestes processos, onde actualmente estão a trabalhar, afirma Pedro Balonas, 20 pessoas.

Este é o conceito que foi tornado público, e o modelo de negócio que o sustenta: as empresas interessadas em desenvolver tecnologia e soluções, nas mais variadas áreas, como materiais científicos, técnicas de construção, engenharia mecânica, indústria automóvel, software, electrónica, etc, são convidadas a integrar um "ecossistema" de parcerias, tornando-se elas próprias investidoras. "O parceiro da Living PlanIT terá necessariamente de se instalar na PlanIT Valley, e levar os seus funcionários para testar as soluções e desenvolvê-las ali. E depois vendê-las", explica Steve Lewis.

Moradores chegam este ano

Conceito conhecido e publicado, tudo o resto permanece no segredo dos deuses. E nos últimos dois anos tem-se assistido a uma sucessão de números e anúncios, relativamente às empresas envolvidas e contactadas, e ao avanço, no terreno, desta construção.

Ao Cidades, Steve Lewis avança as mais recentes. Até ao fim deste mês, inicio do próximo, deverão começar a ser adquiridas algumas parcelas de terreno (os 17 quilómetros quadrados reservados para o projecto são propriedade privada). E até ao fim do ano poderão começar a chegar os primeiros dos oito mil novos habitantes (entre funcionários de empresas e seus familiares). Lewis garante que já mais de 900 empresas visitaram Portugal nos últimos dois anos, e que nos próximos cinco é muito provável que se instalem em Portugal 1300 "pequenas, médias e grandes" firmas das mais diversas áreas de actuação.

O investimento previsto para a execução deste projecto chega aos dez mil milhões de euros, para dotar esta smart city da capacidade de atrair, directa ou indirectamente, cerca de 12 mil empresas do sector tecnológico e criar cerca de 20.000 empregos. Para a concretização do projecto, não há datas. Os compromissos, para já, circunscrevem-se ao que chama a Fase 1: um investimento de cerca de 500 milhões de euros, só para a parte da construção e das infra-estruturas numa área de 37 hectares. A componente tecnológica - nomeadamente o Centro de Inovação Global para Sensores de Redes e a respectiva rede de sensores a instalar pela Cisco Systems, custarão mais 200 milhões.

Steve Lewis esbanja elogios para todos os protagonistas portugueses que, a dada altura, tomaram contacto e decisões relativamente ao projecto, que anda a ser trabalhado e pensado desde 2007. Começa na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDRN), que acompanhou o projecto, e segue para a agência para a promoção do investimento (AICEP) e para o seu presidente, Basílio Horta. A primeira pelo auxílio do trabalho técnico, o segundo por ter dado "um apoio soberbo", e ter uma visão" muito prática, muito focada".

O presidente da Living PlanIT prossegue os elogios para o Governo português, que, alega, fez "o que se espera para um projecto deste tipo: saiu do caminho, não atrapalhou". Mas, acrescenta o presidente executivo da Living PlanIT, fez exigências que permitiram melhorar o projecto, em termos de incorporação nacional, de criação de postos de trabalho.

Segundo a AICEP, o projecto PlanIT Valley garantiu a dinamização de um cluster regional de PME da area tecnológica. Como contrapartida, terá facilidades administrativas e fiscais que merece um empreendimento com o selo PIN - Projecto de Interesse Nacional, concedido em Setembro de 2009. Questionada pelo Cidades, fonte oficial da AICEP sublinhou o carácter inovador do projecto, acreditando que os parceiros que já foram anunciados publicamente pelos promotores, e que são liderados pela Cisco, lhe conferem a "credibilidade" que poderá tornar possível o seu sucesso.

O maior dos elogios dispensados por Steve Lewis vai, no entanto, para o autarca de Paredes: "Não há muitos Celsos Ferreiras no mundo, homens com esta visão", argumenta. Para Lewis, "uma das maiores vantagens de Portugal é o facto de os autarcas terem poderes de decisão, de facto". "E isso não acontece em muitos outros países", assegura.

O que é que Paredes tem?

O presidente da Câmara de Paredes relata a "conquista" deste projecto para Portugal como algo que foi muito trabalhado, e que resultou de uma prospecção de indústrias que pudessem instalar-se no concelho e diversificar a oferta produtiva, muito concentrada no mobiliário. "Encetámos contactos com a indústria automóvel, queríamos trazer para o concelho indústrias de nicho. Foi aí que chegámos a Miguel Rodrigues, o autor do Vinci GT", explica o autarca, referindo-se ao carro desportivo que foi desenvolvido no Centro para a Excelência e Inovação da Industria Automóvel (CEIIA), instalado no TecMaia. O carro não chegou à produção industrial, mas em vez de perder uma fábrica, Paredes acabou de ganhar a promessa de "uma cidade".

A Living PlanIT portuguesa é uma empresa com sede na Maia, da qual Miguel Rodrigues é sócio, e que tem como sócio maioritário Steve Lewis. A informação disponibilizada no Portal de Justiça revela uma empresa constituída com cinco mil euros de capital, tendo como actividade os "serviços de diversão e recreio", e com apenas um funcionário. Lewis diz ao PÚBLICO que, na fase actual, os funcionários são já 130, e que a maior parte deles trabalha em Portugal. "Mas o número de pessoas que, de alguma forma, está a trabalhar neste projecto, numa base diária, em todo o mundo, chega já às 2000", assegura.

O líder do PlanIT Valley sublinha que não está à frente de uma empresa de imobiliária, nem de uma empresa de construção - "a Living planIT é uma empresa que desenvolve tecnologias inovadoras, e sustentáveis, à escala urbana", define - mas que chamou algumas das líderes mundiais destes sectores para a rede de parceiros. Por um lado, celebrou um acordo com a Quintain, uma empresa do sector imobiliário que está a desenvolver projectos de regeneração urbana no centro de Londres e que investe muito na investigação e desenvolvimento de novas urbes. Por outro, tem também como parceiro a BuroHappold, uma importante empresa de engenharia, que está a desenvolver projectos de construção em vários pontos do globo.

"A nossa preocupação foi captar o interesse destas grandes empresas internacionais, que, pela sua capacidade e liderança, servirão como âncora para atrair outras empresas", afirma Steve Lewis. Apesar de varias tentativas, o PÚBLICO não encontrou empresas nem funcionários disponíveis para revelar as frentes em que estão a trabalhar. O segredo é a alma do negócio, e o momento actual, garante Lewis, é o do sprint final: "Está muita gente a correr para a meta, ao mesmo tempo".

Celso Ferreira explicou ao PÚBLICO que para evitar possíveis especulações dos proprietários, tem três localizações distintas por onde o projecto pode avançar. "Já há negociações no terreno, e a estratégia é a de que, quando percebermos em qual das três localizações é mais vantajoso, economicamente, avançar, iniciamos as transacções", justifica. O município ainda não fez nenhuma compra, mas já tem um empréstimo negociado. "É a Agência Municipal quem compra o terreno, e depois é ressarcida pela Living PlanIT desse valor", explica o autarca. Que valor? Celso Ferreira diz que não pode dizer, "por razões óbvias".

Óbvia também é a dificuldade de concretizar um projecto com esta envergadura e este grau de integração dos parceiros a envolver. Mas o certo é que, se os planos de Lewis e dos que o acompanham ultrapassarem o entusiasmo que o inglês coloca em cada palavra, para se tornarem, de facto, uma cidade, haverá em Portugal um sítio onde o planeta pode observar propostas para novas formas de trabalhar, habitar, num mesmo espaço. Um lugar em que, por exemplo, os computadores nos ajudarão nas tarefas diárias, dizendo-nos para o telemóvel que a loja por onde estamos a passar, no caminho a pé para o trabalho, tem o produto que nos falta num armário da despensa de casa. E este serviço até já está a ser trabalhado, como solução a comercializar, por uma empresa portuguesa, assinala um não menos entusiasmado presidente da Câmara de Paredes. Steve Lewis, presidente da Living PlanIT

in Público
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