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Gestores da Pioneer transformaram fecho da empresa numa oportunidade de negócio

O encerramento da fábrica da Pioneer em Portugal era um facto consumado, mas três gestores, um deles director-geral, conseguiram ver um pouco mais além.

Compraram o equipamento da subsidiária e criaram uma nova empresa, que vai manter-se no ramo da electrónica e contratar os antigos trabalhadores. Querem deixar para trás a pesada herança da multinacional japonesa, que deixou 127 portugueses no desemprego, sem esquecer os erros do passado.

António Freitas, era, desde 1995, o responsável máximo da Pioneer em território nacional. Em Maio do ano passado, face à inviabilidade financeira da empresa, viu-se a braços com um cenário de despedimento colectivo, no qual também estava incluído. Nesse mesmo mês, juntou-se a quatro colegas para propor um management buy out [compra de capital por parte da gestão] ao grupo, antes que o fecho da fábrica se concretizasse.

Queriam ficar com o que sobrara de um projecto que a instabilidade económica tinha condenado. Mas, para isso, era necessário que a multinacional garantisse um número mínimo de encomendas à nova empresa, por um período de cinco anos. A resposta chegou em Junho. Foi negativa. "O nosso projecto previa a manutenção de 70 a 120 postos de trabalho, mas era preciso garantir uma quantidade mínima de vendas para que fosse viável", conta.

Os gestores desistiram. E, em Junho, comunicaram oficialmente aos trabalhadores o encerramento. Daí em diante, falar-se-ia apenas de falência e de desemprego nos corredores da fábrica no Seixal. Estavam em causa 127 postos de trabalho. No entanto, na cabeça de António Freitas, a ideia de aproveitar o legado da Pioneer ainda não tinha esmorecido. Por isso, falhado o management buy out (MBO), fez uma nova tentativa.

Uma questão de espaço

No final do Verão, juntou-se a outros dois gestores: Vítor Gomes, ex-director de produção, e Hélder Guerreiro, chefe de serviços de sistemas de informação. Nessa altura, já a empresa entrara na fase da venda de activos. "Por que não adquirir os equipamentos e criar uma empresa?", pensaram. E assim foi. O material estava a ser alienado a um preço atractivo e foi fácil cobrir as propostas dos licitadores. "Já tínhamos o conhecimento e ficámos com a tecnologia", diz o gestor de 52 anos.

Adquirido o equipamento, faltava criar a empresa. Mas, antes disso, era preciso lidar com outro dilema: o despedimento colectivo. Foi um processo moroso, até porque a Pioneer contratou uma empresa de outplacement [serviços de transição profissional], a Transitar, para apoiar os trabalhadores. Foi nessa tarefa que António Freitas esteve concentrado até ao final do ano.

"Em Janeiro deste ano, recomeçámos a trabalhar no projecto e, a 31 de Março, constituímos a empresa", afirma. Agora, só falta encontrar as instalações ideais, para compra ou arrendamento. Passo que esperam dar "até ao final de 2010". A razão por que esta questão pode demorar meses a ser resolvida tem muito a ver com a saída da multinacional de Portugal. É que uma das causas foi as despesas que a fábrica significava.

"O edifício foi projectado para ser rentável com 700 a 750 trabalhadores, com mais volume de produção. À medida que as encomendas foram diminuindo, isto tornou-se num problema", conta António Freitas. É por isso que a questão do espaço é tão importante. "Assim que encontrarmos o local certo, avançamos", garante. Se optarem pela compra, o projecto deverá significar um investimento de 1,5 milhões de euros no total.

"Aprender até morrer"

A componente física não é, no entanto, o único ensinamento que retiraram da experiência ao serviço da Pioneer. Sabem que, ao contrário do que a multinacional japonesa fazia, têm de trabalhar mais na diversificação dos clientes. A subsidiária portuguesa era, desde 2000, a única do grupo que produzia para terceiros, mas, ainda assim, esta área só pesava cinco por cento na facturação.

E depois há azares que não se podem prever. Como o que aconteceu à Pioneer, quando, depois de gastar um milhão de euros numa linha de produção que iria servir, a partir de Portugal, produtores de automóveis japoneses com projectos na Europa, os clientes desistiram e as expectativas de receitas da multinacional japonesa, que, no final de 2008, apresentava prejuízos de 3,4 milhões de euros, caíram por terra. "Estamos sempre expostos a estas surpresas. É aprender até morrer", sublinha António Freitas.

A empresa que criou, em conjunto com dois antigos colegas, vai continuar focada na produção de equipamentos de electrónica, mas com uma visão mais abrangente. Podem continuar a fabricar auto-rádios, mas não será o único produto. "Ainda estamos a estudar o mercado. Queremos focar-nos em equipamentos com garantia de qualidade e fiabilidade. Pode ser para o sector automóvel ou para o médico, por exemplo", avança. A ideia é explorar a Europa, procurando clientes "na Alemanha, França, Espanha, Reino Unido e Países Baixos".

Quanto a expectativas de facturação, António Freitas frisa que este negócio "não é para pessoas que querem lucro no curto prazo". Esperam atingir o break-even [fase em que as receitas pagam o investimento realizado] "não ao fim de cinco, mas ao fim de dez anos". Mas nem por isso pensam em desistir. Com eles, deverão levar ex-trabalhadores da Pioneer. "Entre 16 e 20 no início e, ao final de três anos, cerca de 60", assegura.

Enquanto estas ambições não se concretizam e as instalações ideais não aparecem, o gestor português continua ligado à multinacional japonesa que o contratou em 1995 para criar um projecto de raiz em Portugal. É que ainda falta vender a fábrica de auto-rádios no Seixal.

in Público
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